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Crítica

Hatchie

: "Keepsake"

Ano: 2019

Selo: Double Double Whammy / Heavenly Recordings

Gênero: Shoegaze, Rock Alternativo, Dream Pop

Para quem gosta de: Snail Mail e Cocteau Twins

Ouça: Without a Blush e Stay With Me

8.0
8.0

“Keepsake”, Hatchie

Ano: 2019

Selo: Double Double Whammy / Heavenly Recordings

Gênero: Shoegaze, Rock Alternativo, Dream Pop

Para quem gosta de: Snail Mail e Cocteau Twins

Ouça: Without a Blush e Stay With Me

/ Por: Cleber Facchi 05/07/2019

A nostalgia é parte substancial do som produzido por Harriette Pilbeam no Hatchie. Do uso ruidoso das guitarras, claramente ancoradas na obra de veteranos como My Bloody Valentine, Cocteau Twins e Slowdive, passando pela minúcia nas harmonias de vozes e versos que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte, marca de bandas como The Cardigans e No Doubt, difícil ouvir as canções assinadas pela cantora e compositora australiana e não ser rapidamente transportado para o cenário cultural que marcou o início dos anos 1990.

Entretanto, para além de um simples resgate de ideias e conceitos empoeirados, sobrevive no primeiro álbum de estúdio da artista de Brisbane, Keepsake (2019, Double Double Whammy / Ivy League / Heavenly Recordings), o princípio de um fortalecimento estético e construção da própria identidade criativa. São camadas de guitarras, texturas atmosféricas e ruídos que servem de alicerce para o principal componente da obra: a poesia confessional de Pilbeam.

Se eu pudesse te beijar mais uma vez / Tudo ficaria bem? / Ou isso apenas me faria uma mentirosa? / Eu não queria terminar esta noite“, confessa em Without a Blush, música que resume parte das experiências sentimentais compartilhadas pela cantora. São canções de amor, versos existencialistas e instante de doce melancólica, como um resgate poético de tudo aquilo que a artista australiana tem vivido desde o último ano, quando revelou ao público o também sensível Sugar & Spice (2018).

Em Stay With Me, oitava composição do disco, o mesmo romantismo agridoce que recheia parte expressiva da obra. “Não é melhor agora que você se foi / Não é melhor sozinha / Mesmo quando você se vai / Eu sinto que você é o único que ganhou / Mesmo quando estou errada, você age como se eu fosse o única / Fique comigo“, implora enquanto guitarras carregadas de efeitos se espalham em meio a batidas eletrônicas, ampliando os limites da obra. A própria Secret, com seus sintetizadores atmosféricos, delicadamente aponta para novas direções, mergulhando no art pop da década de 1980.

Feito para ser desvendado aos poucos, conceito reforçado logo na inaugural Not That Kind, Keepsake utiliza dessa lenta entrega dos elementos como um estímulo para capturar a atenção do ouvinte. São camadas de guitarras, vozes submersas, sintetizadores pontuais e versos entristecidos que encolhem e crescem a todo instante, refletindo o esmero de Pilbeam e o produtor John Castle. Um comprometimento estético que se reflete tanto nas paisagens instrumentais da climática Her Own Heart, como na aceleração de Obsessed, faixa que faz lembrar o trabalho de veteranos como Lush e Rocketship.

Extensão natural de tudo aquilo que Pilbeam havia testado há poucos meses, durante o lançamento de Sugar & Spice, Keepsake colide passado e presente de forma particular, como se a cantora utilizasse das próprias experiências como um elemento de diálogo com o ouvinte. São histórias de amor, momentos de breve desilusão e a evidente busca do eu lírico em se restabelecer sentimentalmente, proposta que parte da artista australiana, porém, se aproxima de outros exemplares recentes da cena alternativa, como Lush (2018), da Snail Mail, ou mesmo Morri de Raiva (2019), estreia da brasileira BRVNKS.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.