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Crítica

Low

: "Hey What"

Ano: 2021

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie, Experimental, Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo e Galaxie 500

Ouça: White Horses e More

8.5
8.5

Low: “Hey What”

Ano: 2021

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie, Experimental, Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo e Galaxie 500

Ouça: White Horses e More

/ Por: Cleber Facchi 16/09/2021

Em atuação desde o início dos anos 1990, Alan Sparhawk e Mimi Parker pareciam ter alcançado o apogeu criativo do Low no começo da década seguinte, quando obras como Things We Lost in the Fire (2001) e a coletânea A Lifetime of Temporary Relief: 10 Years of B-Sides and Rarities (2004) serviram para consolidar tudo aquilo que a banda de Duluth, Minnesota, vinha testando desde a estreia com I Could Live in Hope (1994). Entretanto, longe de qualquer traço de conforto, o casal estadunidense passou parte expressiva dos últimos anos se reinventando em estúdio, exercício reforçado durante o lançamento de C’Mon (2011), porém, potencializado com a entrega de Ones and Sixes (2015) e o ainda espantoso Double Negative (2018).

Essa mesma força criativa de Sparhawk e Parker acaba se refletindo nas canções de Hey What (2021, Sub Pop). Mais recente trabalho de estúdio da dupla norte-americana, o registro de dez faixas segue exatamente de onde o casal parou no disco anterior, porém, de forma ainda mais impactante, torta e brutalmente imprevisível. Do momento em que tem início, em White Horse, cada mínimo fragmento da obra ganha forma a partir do uso contrastado das microfonias e vozes cuidadosamente encaixadas. São blocos colossais de ruídos e quebras bruscas que parecem pensadas para confundir a experiência do ouvinte, como uma interpretação ampliada do material entregue anteriormente em Dissaray e Dancing and Blood.

Parte desse senso de renovação vem justamente da escolha da dupla em colaborar em estúdio com o cada vez mais requisitado BJ Burton. Conhecido pelo trabalho como colaborador de artistas como Bon Iver e Charli XCX, o engenheiro de som parece alcançar um equilíbrio entre o completo experimentalismo do Low e a busca por uma sonoridade minimamente acessível, conceito reforçado no uso das vozes, sempre cíclicas, como um mantras hipnóticos. “É por isso que estamos vivendo em dias como estes novamente / Novamente / Novamente / Novamente“, repete Sparhawk na fragmentada Days Like These, música que encolhe e cresce a todo instante, arrastando o ouvinte para dentro de um turbilhão instrumental e poético.

É como uma permanente deturpação de tudo aquilo que é belo e delicado, direcionamento bastante evidente em All Night. São pouco mais de cinco minutos em que a dupla parte de uma base acolhedora, sempre guiada pelas vozes orquestrais de Parker, para mergulhar em um oceano de ruídos, quebras e captações granuladas, proposta que tende aos delírios de veteranos como Throbbing Gristle, porém, dentro de um universo particular do Low. Vez ou outra, o casal segue o caminho oposto, partindo de uma estrutura totalmente disforme para um ambiente acolhedor, vide a sequência composta por There’s a Comma After Still e Don’t Walk Away, essa última, criação que mais se aproxima dos primeiros trabalhos da banda.

Entretanto, é justamente quando tende ao excesso que Hey What alcança seus melhores momentos. E isso fica bastante evidente na sequência de encerramento do trabalho. Primeiro, a dupla rompe com qualquer traço de linearidade ao mergulhar na som altamente distorcido de More, música que parece pensada para soterrar e sufocar o ouvinte. Um preparativo para o material entregue na derradeira The Price You Pay (It Must Be Wearing off), faixa que se espalha em um intervalo de mais de sete minutos de duração, incorporando incontáveis camadas de guitarras, vozes tratadas como instrumentos e o uso destacado das batidas, elemento sempre incorporado de maneira bastante contida em toda a discografia do casal.

Dividido entre momentos de calmaria e caos, Hey What costura passado e presente do Low de forma sempre provocativa, forte. Enquanto os versos refletem o caráter existencialista da obra, aportando em experiências conflituosas e momentos de maior descrença, musicalmente o trabalho funciona como um precioso estudo sobre a degradação da matéria. São ambientações acinzentadas, ruídos e microfonias que parecem pensadas de forma a potencializar, mesmo que de maneira estranha, os sentimentos detalhados dentro de cada composição. Instantes em que a dupla resgata fragmentos do material entregue em Double Negative, porém, estabelece na produção de Burton um necessário componente de renovação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.