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Crítica

Lucas Vasconcellos

: "Teoria da Terra Plena"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Indie, MPB, Folk

Para quem gosta de: Ale Sater, Jair Naves e Luiza Brina

Ouça: Eu Vou Sequestrar Você e O Som do Futuro

7.8
7.8

Lucas Vasconcellos: “Teoria da Terra Plena”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Indie, MPB, Folk

Para quem gosta de: Ale Sater, Jair Naves e Luiza Brina

Ouça: Eu Vou Sequestrar Você e O Som do Futuro

/ Por: Cleber Facchi 28/04/2021

No reducionismo dos arranjos, um mundo de histórias e sentimentos a serem compartilhados por Lucas Vasconcellos. Longe da agitação que tomou conta da vida do músico fluminense na última década, como a extensa turnê com a Legião Urbana e encontros com diferentes representantes da cena brasileira, Teoria da Terra Plena (2021, Independente), novo álbum do cantor, compositor e multi-instrumentista, nasce como um precioso refúgio. São canções marcadas pela economia dos instrumentos e parcial recolhimento do artista, efeito direto da escolha de Vasconcellos em registrar cada uma das faixas que abastecem o disco em um estúdio caseiro. Fragmentos que ganham forma em uma medida própria de tempo, sem pressa, leveza que se reflete até o último segundo da obra.

Feito para ser absorvido aos poucos, o sucessor de Adotar Cachorros (2015) segue a trilha atmosférica do registro que o antecede, porém, utiliza do mesmo refinamento melódico explícito em Falo de Coração (2013) e nas releituras acústicas de Silenciosamente (2016). E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do trabalho, em O Contorno das Nuvens. Composta em parceria com Phillip Long, a canção encanta pelo tratamento dado aos versos e temas que partem de um relacionamento para entender a grandeza do universo, porém, estabelece na leveza dos arranjos um elemento de imediato diálogo com o ouvinte. São camadas de guitarras que apontam para a obra de estrangeiros como The Shins, mas que em nenhum momento perdem o brilho particular de Vasconcellos.

Uma vez imerso nesse cenário de formas aprazíveis e temas instrumentais que se revelam ao público em pequenas doses, o músico fluminense conduz com leveza a experiência do ouvinte durante a primeira metade do registro. São canções como O Som do Futuro e Eu Vou Sequestrar Você em que o compositor oscila entre conflitos existencialistas e momentos de maior vulnerabilidade. “As coisas são porque são / E a gente aceita ou não / E a vida vai passando mesmo sem a gente querer“, canta em As Coisas são Assim, faixa que sintetiza parte dos sentimentos detalhados em parceria com Felipe Duriez (guitarras), Gabriel Tauk (baixo), Álvaro Cardozo (bateria), Antônio Neves (bateria), Rodrigo Tavares (teclados), Emygdio Costa (sintetizadores) e outros nomes importantes da cena carioca.

Passado o encontro com Uyara Torrente (A Banda Mais Bonita da Cidade), em Vamos Tacar Fogo nas Coisas, delicado dueto que ainda conta com a participação dos músicos Thomas Harres (percussão) e Bruno Di Lullo (baixo), Vasconcellos abre passagem para o lado menos ensolarado e consequentemente reflexivo da obra. Puxado pela colaboração com Letícia Novaes (Letrux), em Falem, o artista fluminense estabelece na construção dos versos um olhar melancólico, ainda que sóbrio, sobre o presente. “Nada é / Pra sempre / Hoje eu sei / Às vezes pra você não se afogar / Tem que desistir de dar as mãos“, canta. É como uma quebra dos temas bucólicos e momentos de evidente leveza que abrem o disco, conceito reforçado em faixas como Somos Esse Trem e Fumaça dos Carros.

Se por um lado essa quebra garante ao disco um necessário elemento de ruptura e contraste, por outro, esbarra na morosidade e completa ausência de ritmo que parece típica das canções apresentadas em Adotar Cachorros. Salve exceções, como a já citada Somos Esse Trem, tudo gira em torno da voz e das experiências detalhadas pelo artista fluminense, direcionamento que funciona no choque entre músicas como Eu Vou Sequestrar Você e a ensolarada Vamos Tacar Fogo nas Coisas, mas que custa a impressionar na sequência composta por Somos Esse Trem, Fumaça dos Carros e Terra Plena. Canções naturalmente movidas pela forte sensibilidade de Vasconcellos, mas que ao serem enfileiradas no bloco final do trabalho tornam a experiência de ouvir o disco arrastada.

Entretanto, ao usar da voz doce de Torrente nos minutos finais de Terra Plena, Vasconcellos garante ao registro um encerramento adequado, como uma obra cíclica que convida o ouvinte a reviver parte das experiências detalhadas nos minutos iniciais do disco. E não poderia ser diferente, afinal, Teoria da Terra Plena é justamente um trabalho que depende do constante regresso do ouvinte até ser absorvido por completo. Mesmo regido pela economia dos arranjos, são os pequenos detalhes e frações que se escondem por entre as brechas do álbum que tornam a experiência de ouvir o material tão satisfatória. Composições que, para o bem ou para o mal, costuram passado e presente de tudo aquilo que define as criações do músico, deixando o caminho aberto para os próximos lançamentos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.