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Crítica

Lykke Li

: "Eyeye"

Ano: 2022

Selo: Pias

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Robyn

Ouça: Over e Highway to Your Heart

7.0
7.0

Lykke Li: “Eyeye”

Ano: 2022

Selo: Pias

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Robyn

Ouça: Over e Highway to Your Heart

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2022

Por mais questionável que seja a direção criativa adotada por Lykke Li em So Sad So Sexy (2018), em se tratando da construção dos versos, prevalece a habitual melancolia e permanente sensação de entrega proposta pela cantora e compositora sueca. Entretanto, bastam os minutos iniciais de Eyeye (2022, Pias), quinto e mais recente álbum de estúdio, para perceber a gritante diferença entre um registro e outro. Distante do pop comercial e do inusitado flerte com o trap que resultou em faixas como Sex Money Feelings Die e Utopia, a artista convida o ouvinte a se perder em um território verdadeiramente consumido pela dor.

Mais uma vez acompanhada pelo produtor Björn Yttling, um dos integrantes da banda Peter Bjorn and John e parceiro desde o introdutório Youth Novels (2008), a artista se concentra na produção de um material reducionista, mas não menos sensível e relevante dentro da própria discografia. A própria escolha da cantora em fazer de No Hotel a primeira faixa do disco a ser apresentada ao público reforça isso. Entre guitarras discretas e captações de campo adornada pelo cricrilar dos grilos, a letra cresce dolorosamente. “Batimento cardíaco meio morto, eu carrego a tristeza / A cada passo, eu não superei você“, confessa.

Em um claro regresso ao mesmo universo temático detalhado nas canções de Wounded Rhymes (2011) e I Never Learn (2014), a artista sueca faz de cada composição um precioso exercício de exposição sentimental. São versos que tratam do distanciamento da pessoa amada, solidão e momentos de maior vulnerabilidade, como um acumulo natural de tudo aquilo que a cantora tem incorporado desde os primeiros registros autorais. “É só no filme que você me ama em 5D? / É só nos filmes? / Na minha tela? No meu sonho? / Sonhar acordado não é suficiente“, detalha em 5D, um dos momentos mais dolorosos da obra.

A principal diferença em relação a outros trabalhos produzidos pela artista, principalmente o doloroso I Never Learn, está na forma como a compositora sueca busca corrigir os próprios erros e seguir em frente, mesmo de maneira errática. “Estou aqui para superar / Todas as noites que você me decepcionou / Não quero ficar sóbria agora que acabou“, canta em Over, música que não apenas rompe com a poesia conformista do restante da obra, como sustenta na construção dos arranjos e uso destacado das batidas um dos momentos de maior potência do registro, lembrando as criações de Yttling em Writer’s Block (2006).

Nada que pareça prejudicar a construção de faixas consumidas pela dramaticidade dos temas. “A noite cai, chove e eu acordo sozinha / Fique chapada, mas não vai durar, ainda estou sozinha“, desaba em Highway To Your Heart, uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público e uma clara representação do que existe de mais característico no som produzido pela artista. A própria música de encerramento, ü&i, mesmo vindo em sequência à libertadora Over, reforça o lirismo sofredor que parece próprio de Li. “Lágrimas escorrendo pelos meus olhos / Olha, você fez uma mulher adulta chorar“, canta.

Misto de regresso e continuação do repertório que antecede o lançamento de So Sad So Sexy, Eyeye encanta pela vulnerabilidade dos versos, porém, ecoa como um trabalho ainda incompleto. Parte dessa sensação vem da produção excessivamente econômica que orienta o repertório, inviabilizando a entrega de composições maiores. Com exceção de Over, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias e temas instrumentais bastante similares. Falta contraste entre as faixas, componente explícito nos registros anteriores, mas que parece abandonado no presente álbum, diminuindo drasticamente o impacto da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.