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Ano: 2022

Selo: Difusa Fronteira

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: O Terno e Dingo Bells

Ouça: A Vida É Uma Aventura e Eles

8.6
8.6

Maglore: “V”

Ano: 2022

Selo: Difusa Fronteira

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: O Terno e Dingo Bells

Ouça: A Vida É Uma Aventura e Eles

/ Por: Cleber Facchi 29/08/2022

A base ensolarada que contrasta com a sobriedade dos versos, arranjos de metais que evocam as grandes aberturas dos filmes de James Bond, a ausência de certeza que serve de passagem para um mundo de novas descobertas. Bastam os minutos iniciais de A Vida É Uma Aventura, composição de abertura em V (2022, Difusa Fronteira), para que o ouvinte seja prontamente transportado para dentro do quinto e mais recente trabalho de estúdio da banda baiana Maglore. Instantes em que o grupo formado por Teago Oliveira(voz e guitarra), Lelo Brandão (guitarra, sintetizadores), Felipe Dieder (bateria) e Lucas Gonçalves (baixo) parte das inquietações experienciadas durante o período pandêmico para dialogar com o ouvinte.

A gente envelheceu, a gente superou / Cada momento em que a vida foi mais dura / Para se escrever em um final que não chegou / A vida é uma aventura“, anuncia Oliveira, apontando a direção seguida pelo quarteto ao longo do disco que conta com produção do sempre minucioso Leonardo Marques (Jennifer Souza,Isabel Lenza). Partindo desse cenário marcado pelas incertezas e sentimentos universais, cada composição assume uma função específica. São nostálgicas canções de amor, momentos de maior vulnerabilidade e crises existenciais, mas que em nenhum momento perdem o contato com a realidade.

Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Eles. Enquanto a base empoeirada da composição faz lembrar de I’m Waiting For The Man, uma das grandes criações do grupo nova-iorquino The Velvet Underground, Oliveira sustenta nos versos um ataque ao conservadorismo e ao pensamento fascista. “Eles, fuzis e botas em altos brasões / Forjam verdades e conspirações / Raio divino e exterminação / Por avareza“, canta. É como uma extensão do lirismo político incorporado pelo quarteto durante o lançamento do trabalho anterior, o maduro Todas As Bandeiras (2017), porém, de forma ainda mais evidente e marcada pelo senso de enfrentamento. “Eles, eles não têm chance, não / Eles não entendem o que são“, completa.

Sobrevive justamente nessa capacidade da banda em alternar entre canções escapistas e versos marcados pela seriedade dos temas um natural estímulo para o fortalecimento da obra. Com mais de uma década de carreira, a Maglore sabe exatamente onde quer chegar e V é um bom exemplo disso. Do momento em que tem início, na já citada A Vida É Uma Aventura, passando pelo doce romantismo de Amor de Verão ou mesmo pelo lirismo existencial de Espírito Selvagem, evidente é o equilíbrio alcançado pelo quarteto baiano. São composições que costuram passado e presente de forma detalhista, confessam referências e ainda abrem passagem para um universo de novas possibilidades, ritmos e diferentes direções criativas.

De fato, parte expressiva da segunda metade do trabalho parece dedicada ao exercício da banda em ampliar o próprio campo de atuação. Do flerte com o reggae, em Revés de Tudo, ao reducionismo e uso de temas orquestrais que embala a derradeira Para Gil e Donato, evidente é o esforço do grupo em romper com qualquer traço de conforto. Nada que se compare ao material entregue na psicodélica Maio, 1968. Uma das inúmeras criações da Maglore que evidencia o fascínio do quarteto pela obra dos Beatles, a canção flutua em meio a personagens, cenas e acontecimentos tão particulares quanto historiográficos. Um delirante e sempre imprevisível exercício criativo que se reflete até os minutos finais da composição.

Mesmo quando tende aos excessos, como em Amor Antigo, composição que pouco acrescenta quando próxima de outras criações românticas apresentadas ao longo da obra, V em nenhum momento deixa de surpreender o ouvinte. Do uso das vozes ao refinamento dado aos arranjos, difícil não se deixar conduzir pelo repertório montado pelo quarteto baiano. É como um acumulo natural do que há e melhor e mais característico no som produzido pela banda. Canções que resgatam a essência dos registros anteriores, vide as melodias e leveza do excelente III (2015), contudo, de maneira atualizada e deliciosamente atrativa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.