Quem há tempos acompanha o trabalho de Murilo Oliveira Santos, o MU540, sabe como o produtor e DJ da baixada santista vem tensionando a relação entre o funk e outros desdobramentos da música eletrônica de forma bastante inventiva. De registros autorais, como o EP No Susto (2023), passando pela colaboração com nomes como Uana, MC Tha e Irmãs de Pau, sobram momentos em que o artista deixa sua marca, conceito que ganha novo significado ao mergulhar no repertório montado especialmente para 4X4 (2024, Empire).

Mais recente trabalho de estúdio do produtor paulista, o registro de sete composições parte de um esforço de MU540 em “esconder” o funk em uma obra voltada em essência ao house. Os elementos e a linguagem do gênero estão presentes durante toda a execução do material, porém, partindo de um direcionamento diferente, proposta que vai do uso das vozes ao tratamento dado às batidas e bases dentro de cada canção.

Exemplo disso fica bastante evidente em 06:40 AM. Enquanto MC Laranjinha dispara versos que deslizam feito faca quente na manteiga, MU540 se concentra na construção das batidas que conduzem o ouvinte em direção às pistas e ainda destaca o uso de uma flauta que instantaneamente evoca MC Fioti em Bum Bum Tam Tam. Exatos cinco minutos em que o produtor vai de um canto a outro de forma sempre hipnótica, jogando com a experiência do ouvinte em uma deliciosíssima combinação de estilos, melodias e vozes.

É como se cada faixa levasse o ouvinte para um novo território criativo, conceito que vai do reducionismo explícito na introdutória DZ7, em parceria com Garimpo, à riqueza de detalhes na derradeira Tá No Meu Nome, colaboração com Mih. Não se trata de algo necessariamente novo para quem há tempos acompanha o trabalho de MU540 e outros nomes do gênero que têm levado o funk para diferentes direções, entretanto, tudo é tratado com tamanho capricho que é praticamente impossível não se deixar conduzir pelo material.

E isso fica ainda mais evidente na série de composições em que recebe MC GW. São faixas como XRC no Chão, Vou Te Comer Doidão e Rebola no Pau em que contrasta a elegância das batidas com alguns dos versos mais safados e deliciosos do trabalho. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais provocativa em Pompoarismo, música de acabamento minimalista que cresce nas vozes de Bia Soull.

Pronto para as pistas, como tudo aquilo que o artista tem explorado nos últimos anos, 4X4 soa tanto como uma celebração aos gêneros que incorpora, como um precioso exercício de transformação. São canções que vão de um estilo a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para um trabalho confuso. Pelo contrário, o que se percebe ao longo do material é o completo domínio criativo e versatilidade de MU540 que, mais uma vez, reafirma seu papel como um dos principais nomes da cena eletrônica brasileira.

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