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Ano: 2021

Selo: Geffen

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Taylor Swift e Carly Rae Jepsen

Ouça: Deja Vu, Favorite Crime e Drives License

7.5
7.5

Olivia Rodrigo: “Sour”

Ano: 2021

Selo: Geffen

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Taylor Swift e Carly Rae Jepsen

Ouça: Deja Vu, Favorite Crime e Drives License

/ Por: Cleber Facchi 26/05/2021

Um dos grandes méritos de Olivia Rodrigo em Sour (2021, Geffen), primeiro álbum da cantora e compositora norte-americana, não está necessariamente na capacidade da artista em transportar para dentro de estúdio as próprias inquietações e conflitos intimistas de forma transparente, mas em estabelecer um precioso diálogo com o que há de mais doloroso nas experiências de qualquer indivíduo. “Eu sinto que ninguém me quer / E eu odeio a maneira como sou vista / Eu só tenho dois amigos verdadeiros / E ultimamente, estou uma pilha de nervos“, confessa na introdutória Brutal, música que parece encapsular todo um sentimento de adolescência e deslocamento que passeia por diferentes gerações, proposta que embala a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra.

Nesse sentido, o trabalho catapultado pelo sucesso de Drivers License pode não apresentar nada de exatamente novo quando próximo de outros exemplares do gênero, como o cultuado Jagged Little Pill (1995), de Alanis Morissette, ou Speak Now (2010), de Taylor Swift, porém, lida de forma inteligentíssima com a construção dos versos. São gatilhos emocionais que revivem sensações, cenas e sentimentos que povoam o imaginário de qualquer indivíduo que tenha passado pela adolescência ou vivido um simples caso de amor. Da solidão impressa na já citada composição que alavancou a artista (“Acho que você não quis dizer o que escreveu naquela música sobre mim / Porque você disse para sempre, agora eu passo sozinho pela sua rua“), passando pelo egoísmo que consome Happier (“Então encontre alguém ótimo, mas não encontre ninguém melhor / Espero que você esteja feliz, mas não seja mais feliz“), difícil não se identificar com os temas e histórias abordadas por Rodrigo.

Outro aspecto que contribui para o fortalecimento de Sour diz respeito ao envelopamento dado ao disco. Na contramão de outros nomes recentes da música pop, sempre rodeados por diferentes de produtores e incontáveis compositores, Rodrigo entrou em estúdio acompanhada apenas pelo multi-instrumentista Dan Nigro. Conhecido pelo trabalho como colaborador de Empress Of, Carly Rae Jepsen e Caroline Polachek, o músico nova-iorquino é responsável não apenas por dar unidade à obra, detalhando melodias empoeiras que rompem com a plasticidade de outros registros comerciais, como amplia os sentimentos expressos pela artista. São instantes de breve silenciamento que antecedem momentos de maior explosão, potencializando os versos e vozes da cantora.

E isso fica bastante evidente em Deja Vu. São pouco mais de três minutos em que o produtor parece jogar com os instantes, revelando ao público uma faixa que encolhe e cresce de forma a acompanhar os sentimentos expressos pela artista. “Então, quando você vai dizer a ela que nós também fizemos isso? / Ela acha que é especial, mas é tudo reutilizado“, provoca Rodrigo em meio a sintetizadores enevoados e batidas tortas, por vezes íntimas das criações de Jack Antonoff e Rostam Batmanglij. Mesmo quando desacelera, como na delicada Favorite Crime, Nigro faz de tudo para alavancar os momentos de maior vulnerabilidade expressos pela cantora. “As coisas que eu fiz / Só para eu poder te chamar de meu“, canta em meio a vozes duplicadas que evocam as criações de Bon Iver.

Claro que tamanho esmero no processo de composição da obra não isenta Rodrigo do forte aspecto monotemático de Sour. Salve exceções, como a já citada Brutal, tudo gira em torno de relacionamentos fracassados e conflitos sentimentais vividos pela artista. “Talvez eu seja muito emocional“, brinca na enérgica Good 4 U, música em que adota uma postura autoindulgente, mas que acaba se mostrando confusa em outros momentos do registro, como na poesia contrastada de Enough for You e Happier, onde cada canção parece anular a faixa anterior. Que outras vivências, histórias e sentimentos movimentam o cotidiano da cantora? Difícil não lembrar de Lorde, Clairo e outras compositoras de idade similar, mas que estrearam com um repertório muito mais abrangente.

Mesmo pontuado por momentos de maior desequilíbrio e ideias que se repetem de maneira evidente, Sour cumpre com naturalidade a tarefa de apresentar o trabalho da cantora. A julgar pelo fenômeno em torno de Drivers License, não seria uma surpresa se a artista fosse renegada à condição de one-hit wonder, dividindo espaço com Natalie Imbruglia e outros autores de um único sucesso. O que acontece com o presente álbum é o exato oposto disso. Do momento em que tem início, em Brutal, passando por 1 Step Forward, 3 Steps Back, canção que teve elementos de New Year’s Day recriados por Taylor Swift e Jack Antonoff, à consolidação de Deja Vu e Good 4 U, não são poucos os momentos em que somos capturados pelas memórias e sentimentos cuidadosamente embalados e compartilhados por Rodrigo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.