Image

Ano: 2023

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Tim Hecker e Laurel Halo

Ouça: A Barely Lit Path, Again e On an Axis

8.0
8.0

Oneohtrix Point Never: “Again”

Ano: 2023

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Tim Hecker e Laurel Halo

Ouça: A Barely Lit Path, Again e On an Axis

/ Por: Cleber Facchi 18/10/2023

Nos últimos anos, Daniel Lopatin acabou se transformando em um dos personagens mais requisitados da indústria da música. De ANOHNI a The Weeknd, de Charli XCX a Soccer Mommy, sobram artistas que encontraram no som retorcido do produtor de Massachusetts uma importante fonte de inspiração para os próprios trabalhos. Mesmo com toda essa movimentação e diálogos cada vez mais constantes com o pop, Lopatin continua a brincar com as possibilidades e se desafiar criativamente como Oneohtrix Point Never, principal identidade do músico que volta a surpreender com o curioso repertório de Again (2023, Warp).

Descrito como “uma autobiografia especulativa“, o sucessor de Magic Oneohtrix Point Never (2020) parte das memórias de Lopatin e da relação do produtor com o próprio passado para mergulhar na construção de um repertório que parece dançar pelo tempo. São reinterpretações daquilo que o artista costumava ouvir quando adolescente, porém, incorporadas a partir da experiências de um homem adulto. Oscilações temporais que transitam por diferentes décadas, estilos e propostas criativas, direcionamento que faz de Again um dos registros mais diversos e musicalmente fascinantes já revelados por Oneohtrix Point Never.

Embora parta de uma abordagem essencialmente sintética, efeito direto da forte relação do artista com a produção eletrônica e uso de formatações em MIDI, Again destaca o caráter orgânico das criações de Lopatin. São orquestrações que apontam para o pop progressivo da década de 1970, emulam guitarras ruidosas, típicas dos anos 1990, e sustentam na construção ecoada das batidas uma passagem para a música produzida em 1980. É como um regresso ao mesmo território criativo explorado em obras como Garden o Delete (2015), porém, partindo de um tratamento que busca aproximar parte das composições.

Seja pela escolha dos timbres ou no tratamento dado aos sintetizadores, poucas vezes antes um álbum de Oneohtrix Point Never pareceu tão diverso e ainda assim consistente quanto Again. Claro que essa forte aproximação entre as faixas em nenhum momento impede o artista de jogar com as possibilidades em estúdio. Exemplo mais representativo disso pode ser percebido em A Barely Lit Path. São pouco mais de seis minutos em que Lopatin parte do uso instrumental da própria voz e detalha ambientações sutis que se completam pela lenta, porém, sempre destacada inserção das batidas que ampliam os limites do material.

Essa mesma pluralidade de elementos pode ser percebida em outras canções ao longo do trabalho. Em On An Axis, por exemplo, Lopatin parte de uma combinação de batidas submersas, mas que culminam em um fechamento catártico. Em músicas como The Body Trail e Plastic Antique, sintetizadores inexatos soam como uma interpretação picotada daquilo que Wendy Carlos explorou em Switched-On Bach (1968). A própria faixa-título, posicionada logo nos minutos iniciais do disco, funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o produtor busca desenvolver, brincando com a fragmentação de diferentes estilos.

Pena que nem todas as faixas que integram o disco partilham da mesma riqueza de detalhes. Algumas, como Locrian Midwest, soam mais como um amontoado de ideias do que necessariamente uma criação completa. O próprio uso das vozes se revela de forma questionável, ecoando de maneira repetitiva na maior parte do tempo. Ainda assim, tão logo tem início, nas orquestrações sintéticas de Elseware, difícil não se deixar conduzir pela experiência sonora proposta por Lopatin. É como uma viagem instrumental que segue uma direção pré-estabelecida, mas que nos leva a conhecer cenários totalmente inimagináveis.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.