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Crítica

Oso Oso

: "Sure Thumb"

Ano: 2022

Selo: Triple Crown

Gênero: Indie Rock, Emo

Para quem gosta de: Joyce Manor e The Hotelier

Ouça: Nothing To Do, Pensacola e Give a Fork

8.0
8.0

Oso Oso: “Sore Thumb”

Ano: 2022

Selo: Triple Crown

Gênero: Indie Rock, Emo

Para quem gosta de: Joyce Manor e The Hotelier

Ouça: Nothing To Do, Pensacola e Give a Fork

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2022

É sempre muito prazeroso mergulhar nas criações de Oso Oso. Em um intervalo de poucos minutos, Jade Lilitri, idealizador da banda, não apenas estabelece uma série de conexões com a obra de veteranos do da cena norte-americana, como utiliza das próprias emoções para estreitar a relação com o ouvinte e estabelecer traços da própria identidade. E isso fica bastante evidente nas canções de Sore Thumb (2022, Triple Crown). Quarto e mais recente trabalho do grupo de Long Beach, Nova Iorque, o registro estabelece no refinamento dado aos arranjos, letras e vozes um claro exercício de amadurecimento e domínio criativo.

Lançado de surpresa, o sucessor de Basking in the Glow (2019), de onde vieram faixas como The View e A Morning Song, segue de onde o músico parou há três anos, porém, partindo de uma abordagem ainda mais interessant e versátil. Do momento em que tem início, em Computer Exploder, cada composição do disco parece transportar o ouvinte para um novo território criativo. São canções que esbarram na obra de artistas como The Promise Ring e Death Cab For Cutie, mas que em nenhum momento ocultam a atmosfera descompromissada, por vez íntima do pop, que parece típica das criações de Lilitri.

E isso fica bastante evidente em Father Tracy, música que evoca a atmosfera ensolarada do Sugar Ray, porém, dentro de uma linguagem própria do Oso Oso. A própria Pensacola, revelada semanas antes ao lançamento do disco, evidencia o mesmo direcionamento estético. São pianos e guitarras que parecem pensadas para grudar na cabeça do ouvinte, como uma tentativa de Lilitri em concentrar apenas o que existe de mais acessível no som produzido pela banda, conceito que tem sido explorado desde a mudança de direção expressa em The Yunahon Mixtape (2017), trabalho em que amplia o repertório apresentado dois anos antes, no introdutório Real Stories of True People, Who Kind of Looked Like Monsters​.​.​. (2015).

Embora capaz de dialogar com uma parcela ainda maior do público, conceito reforçado em músicas como a cantarolável Because I Want To e Nothing Says Love Like Hydration, Sore Thumb está longe de parecer uma obra ausente de peso. Passagem para o lado mais doloroso e sensível do registro, Give a Fork funciona como um bom exemplo disso. Enquanto a base da composição alcança um equilíbrio entre as criações de Elliott Smith e Ben Gibbard, versos marcados pelo forte caráter existencialista tornam tudo ainda mais interessante. “Eu tenho uma lanterna, mas nem uma única pista / Estou ficando sem ideias“, reflete.

Sobrevive justamente nesse equilíbrio entre o lado contemplativo e radiante do álbum o estímulo para algumas das melhores composições de Sore Thumb. É o caso da sequência formada por Fly On The Wall e Describe You, quando Lilitri garante maior aceleração e força ao trabalho, capturando a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. A própria Nothing To Do, logo na abertura do disco, funciona como uma boa representação desse resultado. São guitarras cristalinas e batidas rápidas que se completam pela inserção de versos sempre consumidos pelo peso da memória. “Eu sempre soube que te decepcionaria“, canta.

Tamanha versatilidade e riqueza no processo de composição faz de Sore Thumb uma obra singular quando próxima de outros exemplares do gênero, tradicionalmente regidos pelo mesmo direcionamento estético e uso de temáticas bastante similares. A exemplo do que o Turnstile testou em Glow On (2021), Lilitri utiliza do trabalho como um importante exercício de criação e busca por novas possibilidades. São canções que vão de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para um material confuso, como se o músico fizesse dos próprios sentimentos um importante componente de aproximação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.