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Crítica

Parquet Courts

: "Sympathy For Life"

Ano: 2021

Selo: Rough Trade

Gênero: Pós-Punk, Art Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Iceage e OUGHT

Ouça: Walking at a Downtown Pace e Plant Life

7.8
7.8

Parquet Courts: “Sympathy For Life”

Ano: 2021

Selo: Rough Trade

Gênero: Pós-Punk, Art Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Iceage e OUGHT

Ouça: Walking at a Downtown Pace e Plant Life

/ Por: Cleber Facchi 02/11/2021

Passada a extensa turnê de divulgação do bem-recebido Wide Awake! (2018), Andrew Savage e Austin Brown, guitarristas e co-vocalistas do Parquet Courts, tinham apenas uma certeza em mente: eles não queriam produzir mais um novo disco de rock. Inspirados por experiências lisérgicas em clubes noturnos da cidade de Nova Iorque e trabalhos marcados pelo forte teor dançante, como Screamadelica (1991), do Primal Scream, o grupo, completo pela presença do baixista Sean Yeaton e o baterista Max Savage, se trancou em estúdio para dar vida ao sétimo álbum da carreira, Sympathy For Life (2021, Rough Trade).

Marcado pelo criativo cruzamento de ideias e tendências, conceito reforçado na própria imagem de capa do trabalho, mais uma brilhante criação de Andrew Savage, o trabalho que conta com co-produção de Rodaidh McDonald (The xx, King Krule) e John Parish (PJ Harvey, Aldous Harding) preserva muito da identidade do quarteto nova-iorquino, porém, aporta em outros territórios pouco usuais. E isso fica bastante evidente na faixa-título do trabalho. Pouco menos de três minutos em que o grupo vai do jazz fusion ao rock psicodélico em uma delirante combinação de elementos que desembocam na música seguinte, Zoom Out.

A própria faixa de abertura, Walking At A Downtown Pace, sintetiza parte das experiências incorporadas pela banda ao longo da obra. Enquanto batidas ritmadas rapidamente convidam o ouvinte a dançar, guitarras carregadas de efeitos encolhem e crescem a todo momento, proposta que lembra as criações do Primal Scream em obras como Vanishing Point (1997) e XTRMNTR (2000). O mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo na música seguinte, Black Widow Spider, composição que preserva a essência do Parquet Courts, mas que acaba crescendo no uso destacado das batidas, efeitos e vozes inexatas.

Entretanto, sobrevive nos momentos em que mais se distancia desse resultado previsível e passa a incorporar diferentes interpretações sobre o uso de temas dançantes que Sympathy for Life realmente encanta e cresce. Exemplo disso acontece na psicodélica Plant Life. Enquanto os versos, sempre descritivos, passeiam pela cidade de Nova Iorque, improvisos, camadas de guitarras, batidas e sintetizadores tortos ampliam o campo de atuação do quarteto. É como se o grupo fosse de encontro ao mesmo território criativo de Remain in Light (1980) e demais obras produzidas pelo Talking Heads, similaridade reforçada no misto de canto e rima, quebras e vozes sobrepostas que fazem lembrar das criações de David Byrne.

Nesse sentido, Sympathy For Life funciona muito mais como um exercício criativo do que uma obra completa. São canções que transitam por diferentes campos da música sem necessariamente incorporar um gênero específico. Perfeita representação desse resultado acontece na sequência composta por Application/Apparatus e a já conhecida Homo Sapien. São pouco mais de sete minutos em que o quarteto parte de uma abordagem puramente experimental para mergulhar em uma canção marcada pelo forte apelo comercial. Um precioso cruzamento de informações que se reflete até a derradeira Pulcinella.

Próximo e ao mesmo tempo distante de tudo aquilo que o Parquet Courts havia testado anteriormente, Sympathy For Life, a exemplo do que aconteceu no recente Seek Shelter (2021), novo álbum do Iceage, mostra a capacidade do grupo nova-iorquino em testar os próprios limites dentro de estúdio, porém, preservando tudo aquilo que tem sido explorado desde os introdutórios Light Up Gold (2012) e Sunbathing Animal (2014). Composições que ampliam os horizontes da banda e transitam por entre estilos de forma sempre inventiva e intensa, como a passagem para um novo e sempre inusitado território criativo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.