Image
Crítica

Pessoas Que Eu Conheço

: "Ideologia Chinesa"

Ano: 2020

Selo: 40% Foda/Maneiríssimo

Gênero: Eletrônica, Dance, Deep House

Para quem gosta de: Zopelar e Lone

Ouça: House Aprovado Pelo Governo e Modelo WeChat

8.0
8.0

Pessoas Que Eu Conheço: “Ideologia Chinesa”

Ano: 2020

Selo: 40% Foda/Maneiríssimo

Gênero: Eletrônica, Dance, Deep House

Para quem gosta de: Zopelar e Lone

Ouça: House Aprovado Pelo Governo e Modelo WeChat

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2020

Batidas deliciosamente dançantes, sintetizadores e retalhos de vozes que se transformam em um importante componente melódico. Em Ideologia Chinesa (2020, 40% Foda/Maneiríssimo), primeiro álbum de estúdio do produtor Lucas de Paiva como Pessoas Que Eu Conheço, cada fragmento do disco estabelece no uso de pequenos detalhes a base para grande parte das faixas. Canções que parecem pensadas para as pistas, porém, revelam ao público incontáveis camadas instrumentais, indicativo de um território mágico que se abre para a visitação temporária do ouvinte. Um misto de passado e presente, nostalgia e reinterpretação, como se o artista carioca confessasse algumas de suas principais referências criativas.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em House Aprovado Pelo Governo, sexta faixa do disco. São pouco mais de cinco minutos em que Paiva, colaborador de nomes como Mahmundi e Clarice Falcão, passeia em meio a reverberações ensolaradas que evocam o trabalho de veteranos como MJ Cole e Lone, flerta com a obra de James Brown e ainda convida o ouvinte a mergulhar em uma piscina de ondulações cristalinas e sintetizadores sempre precisos. São pinceladas instrumentais que rapidamente capturam a atenção do ouvinte, porém, encantam pelo uso de pequenos detalhes.

O mesmo preciosismo na composição dos temas acaba se refletindo mais à frente, em Hángzhōu. Faixa mais extensa do disco, a canção que soa como um encontro entre Marcos Valle e Disclosure não apenas utiliza de uma série de elementos da música brasileira, como costura diferentes ritmos e fórmulas instrumentais de forma pouco usual. São ambientações jazzísticas que apontam para o city pop japonês, pianos cósmicos e o uso sempre destacado da percussão, como avanço claro em relação aos primeiros registros autorais do produtor, fortemente influenciados pela trilha sonora de jogos de videogame e diálogos com o pop dos anos 1980.

É justamente essa criativa colagem de ideias que torna a experiência de ouvir Ideologia Chinesa tão satisfatória. São faixas como Modelo WeChat e O Futuro Em Pīnyīn em que o artista parece testar os próprios limites, transitando por entre gêneros e recortes instrumentais que apontam para os mais variados campos da música. Composições de essência labiríntica, como Xújiāhuì, registro que preserva a essência melódica dos antigos trabalhos do produtor, vide o material apresentado na série Uma Carta de Amor Para SEGA, mas que carrega na versatilidade das batidas e uso não convencional dos ritmos um importante elemento de transformação.

Claro que essa busca por um repertório detalhista não interfere na entrega de músicas menos complexas, por vezes urgentes. É o caso de Pǔdōng. Pronta para as pistas, a faixa sustenta no movimento acelerado das batidas e vozes a passagem para um novo território criativo dentro do disco. Mesmo Poodle Caramello, com seus latidos e batidas ecoadas reflete o esforço do produtor em jogar com a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra, proposta que se reflete com naturalidade até a derradeira Going Home, música adornada pelo uso de ambientações sutis que lembram o ainda recente Joy of Missing Out (2020), último álbum de Pedro Zopelar.

Resposta conceitual ao EP Eu Creio Que Neste Momento da História A China Ainda Não Tenha Uma Ideologia Para Vencer (2015), Ideologia Chinesa nasce como um exercício da completa versatilidade de Lucas de Paiva. São canções que transitam por diferentes campos da música de forma sempre minuciosa, porém, preservando o forte aspecto dançante que orienta a formação de cada faixa. “Tudo aqui é discotecável“, como resume o texto de apresentação do trabalho, proposta que se reflete tão logo o disco tem início, em Lǎowài, e segue mesmo nos momentos de maior experimentação da obra.



Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.