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Crítica

Preoccupations

: "Arrangements"

Ano: 2022

Selo: Flemish Eye

Gênero: Pós-Punk

Para quem gosta de: Protomartyr e Gilla Band

Ouça: Ricochet e Slowly

7.0
7.0

Preoccupations: “Arrangements”

Ano: 2022

Selo: Flemish Eye

Gênero: Pós-Punk

Para quem gosta de: Protomartyr e Gilla Band

Ouça: Ricochet e Slowly

/ Por: Cleber Facchi 23/09/2022

Há quatro anos, com o lançamento de New Material (2018), terceiro álbum de estúdio produzido pelo Preoccupations, ficou bastante evidente o esforço do grupo formado por Matt Flegel (baixo, voz), Mike Wallace (bateria), Scott Munro (guitarras, sintetizadores) e Daniel Christiansen (guitarra) em investir na montagem de um repertório cada vez menos ruidoso e muito mais voltado ao uso de temas soturnos, como uma fuga dos primeiros registros autorais. São canções que evocam a obra de veteranos como Public Image Ltd. e Joy Division, porém, preservando a identidade criativa e potência da banda canadense.

Sequência ao repertório entregue em New Material, Arrangements (2022, Flemish Eye) funciona como uma extensão natural do registro que o antecede. Enquanto os versos destacam o lirismo pessimista da banda (“Acenda pacientemente o fusível / Sente-se e espere tudo explodir / Analisaremos a dor dentro do prazo de validade“), batidas e guitarras cuidadosamente encaixadas conduzem o ouvinte em direção ao passado. A diferença está na forma como novas referências e diferentes propostas criativas surgem e desaparecem durante toda a execução do trabalho, ampliando consideravelmente o campo de atuação do quarteto.

São ecos de Swans, R.E.M. e outros nomes importantes que surgiram na cena norte-americana durante o mesmo período. Um curioso olhar para o passado, mas que em nenhum momento oculta a capacidade do grupo em desenvolver composições deliciosamente catárticas, conceito que vem sendo explorado desde o introdutório Viet Cong (2015). Guitarras densas, sintetizadores ocasionais e batidas rápidas que se encaminham para um fechamento grandioso, direcionamento explícito em algumas das principais composições já reveladas pela banda nos últimos meses, caso de Ricochet e a potente Death Of Melody.

Esse mesmo dinamismo no processo de construção do trabalho acaba se refletindo durante toda a execução da obra. Do momento em que tem início, em Fix Bayonets, cada composição do disco parece servir de passagem para a música seguinte, proposta que embala com naturalidade a experiência do ouvinte até a derradeira Tearing up the Grass. A própria imagem de capa do registro, uma sobreposição em preto e branco dos próprios integrantes, funciona como uma boa representação desse resultado. Canções que se entrelaçam como parte de uma peça única, feita para ser absorvida do início ao fim.

Se por um lado essa forte aproximação entre as faixas garante ao público uma obra homogênea, por outro, inviabiliza momentos de maior experimentação, bolsões de ruídos e pequenas surpresas que pareciam bastante características nos primeiros registros da banda. Com exceção de Slowly, com suas curvas e quebras ocasionais que evidenciam o domínio criativo do quarteto, é bastante previsível a direção escolhida ao longo do álbum. E isso fica ainda mais evidente na segunda metade do trabalho, quando composições como Advisor e Recalibrate diminuem o ritmo de forma a consumir a experiência do ouvinte.

Entregue ao público em um ano repleto de grandes lançamentos, como Skinty Fia (2022), do Fontaines D.C., e God’s Country (2022), do Chat Pile, Arrangements se apresenta como uma obra interessante e coesa, porém, consideravelmente menor. Mesmo quando voltamos os ouvidos para os antigos trabalhos da banda, como o barulhento Viet Cong e o autointitulado disco de 2016, fica bastante evidente a ausência de impacto que se apodera do presente disco. É como se fosse possível prever cada novo movimento do grupo de Calgary, proposta que convence na maior parte do tempo, porém, evidencia pequenos sinais de cansaço.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.