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Crítica

Rafel Castro

: "Vaidoso Demais"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Pélico

Ouça: A Esquerda Errou Nesse Sentido e Bar e Lanches

7.5
7.5

Rafael Castro: “Vaidoso Demais”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Pélico

Ouça: A Esquerda Errou Nesse Sentido e Bar e Lanches

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2024

Como um bom contador de histórias, Rafael Castro retorna após um intervalo de quase uma década com Vaidoso Demais (2024, Independente), disco em que põe fim a um longo período de hiato e apresenta ao público mais um novo e sempre ácido catálogo de boas composições. Logo de cara, com a divertida Bar e Lanches, o músico faz o que sabe de melhor, provocando a classe média e seus hábitos gourmetizados. “Não é Casa de Francisca, não / Bar e lanches / Eu gosto porque é roots“, canta em uma deliciosa reflexão sobre a vida boêmia e a proliferação de ambientes higienizados, mas que usam de uma falsa estética raiz.

A partir desse ponto, não sobra para ninguém. Em Nunca Em Nome de Satã, o músico paulista discute a distorção religiosa proposta pelas igrejas e afirma: “Nunca, em nome de satã / Uma moça foi queimada / Um coitado iludido / Todo um povo dizimado“. Minutos à frente, é o invasivo atendimento das empresas de telefonia, estímulo para a bem-humorada Pessoal da Claro. São canções essencialmente curtas, sempre orientadas pela poesia cômica, marca do repertório de Castro, porém, provocativas na medida exata.

Exemplo disso fica bastante evidente no que talvez seja uma das principais faixas do disco, A Esquerda Errou Nesse Sentido. Entre arranjos calculados, Castro parte de uma análise sobre o ânus (“Discutimos e elocubramos / Sobre beijar, chupar, lamber, cheirar, dedar o cu de um homem“), para logo em seguida mergulhar em uma reflexão sobre o atual cenário político do país, o avanço a direita e o descompasse da esquerda (“A esquerda errou nesse sentido / O cu do cidadão-de-bem tem outros urubus que comem“).

Claro que nem todas as composições que integram o disco partilham da mesma pertinência temática. É o caso de O Algoritmo Te Escolheu, criação que encanta pela sobreposição entre as vozes de Castro e a cantora Vanessa Bumagny, mas que partilha do mesmo olhar cansado sobre a lógica das redes sociais e as vidas iluminadas pelas telas dos celulares que tantos outros artistas já discutiram anteriormente. O mesmo acontece em Fiscal de Foda, música que mais parece a transcrição de uma discussão diária no Twitter.

Embora desinteressantes ou talvez menores em relação ao restante do material, essas canções logo são substituídas por criações que mais uma vez destacam a força criativa de Castro, trazendo ao trabalho um equilíbrio poucas vezes antes visto na extensa obra do músico. O mais interessante talvez seja perceber como, mesmo nesses momentos de maior desajuste, o compositor paulista não economiza nos detalhes, sustentando na construção dos arranjos assumidos por ele próprio um claro amadurecimento estético.

Observado com atenção, Vaidoso Demais soa como um acumulo natural de tudo aquilo que o músico tem explorado em mais de duas décadas de carreira. Canções que estreitam laços com os antigos trabalhos do compositor, como Lembra? (2012) e Um Chopp e um Sundae (2015), porém, partindo de uma lógica própria e sempre sintonizada com o presente. São relatos, tormentos e pequenas provocações de um artista que, mesmo dono de um vasto repertório e obras apoiadas em diferentes temáticas, ainda tem muito a oferecer.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.