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Crítica

Rodrigo Campos

: "Pagode Novo"

Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: Samba, Eletrônica

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Romulo Fróes

Ouça: Atraco, Deixa a Noite e Pinheiros É Bom

8.6
8.6

Rodrigo Campos: “Pagode Novo”

Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: Samba, Eletrônica

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Romulo Fróes

Ouça: Atraco, Deixa a Noite e Pinheiros É Bom

/ Por: Cleber Facchi 08/03/2023

Isolado por conta da pandemia de Covid-19, Rodrigo Campos fez desse momento de parcial reclusão o estímulo para provar de novas possibilidades e estreitar relações mesmo sem sair de casa. Afinal, se o sambista não vai até o pagode, o pagode vai até o sambista. Utilizando de um celular como elemento de interação e registro do mundo externo, o cantor, compositor e multi-instrumentista estabeleceu as bases para a música geográfica de Pagode Novo (2023, YB Music). São canções investigatórias que partem do pagode como um espaço físico de celebração e um ritmo com características pré-determinadas pela indústria e seus realizadores, mas que se transforma em um componente a ser reconfigurado pelo artista.

Marcado pela forte sensação de movimento, contrastando com o espaço doméstico a qual o compositor foi reduzido durante o período pandêmico, Pagode Novo segue a trilha dos antigos trabalhos do músico que já criou residências sonoras em São Mateus, Bahia, Japão ou mesmo nos quintais do samba. São composições descritivas que partem de observações minuciosas, por vezes radiográficas, de cenários, acontecimentos e personagens. Um espaço conceitual que vez ou outra tende ao conforto quando voltamos os ouvidos para o extenso repertório de Campos e suas contribuições paralelas, mas que acaba tensionando seus limites.

Rodeado por novos e antigos parceiros criativos, honrando o aspecto colaborativo dos pagodes de fundo de quintal, Campos faz do registro um espaço marcado pelo colorido cruzamento de vozes. Logo na abertura do disco, Maria Beraldo desfila em meio a paisagens e sensações enquanto assume os vocais da introdutória Fernanda na Mitologia. Minutos à frente, é o amigo Romulo Fróes que impõe movimento aos versos sempre descritivos de Silvia e o Medo. Um permanente atravessamento de informações que segue até próximo dos momentos finais do trabalho, em Japonego, composição que se abre para Juçara Marçal.

Entretanto, é quando o “novo” explícito no título do trabalho se faz presente, ampliando os limites da obra, que a música de Campos realmente chama a atenção, encanta e cresce. Para além do minucioso processo de criação e uso de instrumentos sempre característicos do compositor paulista, como o cavaco, Pagode Novo seduz por meio do diálogo do artista com a produção eletrônica. São programações e ambientações sintéticas que apontam para o mesmo território desbravado em Delta Estácio Blues (2021), porém, partindo de uma abordagem econômica e marcada pela sofisticação, como se pensada para confortar o ouvinte.

O resultado desse processo está na entrega de composições como a inebriante Atraco. Já conhecida colaboração com Mari Tavares, a faixa preserva o aspecto ritualístico do samba, porém, impressiona pela ambientação enevoadas e completa delicadeza dos arranjos que correm ao fundo da canção. Mesmo quando rompe com esse resultado e investe no uso das batidas, como Deixa a Noite, parceria com Verônica Ferriani, prevalece o refinamento estético que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais do disco, em Mister Chueng, música que soa como um remix dos temas asiáticos de Conversas com Toshiro.

Claro que essa busca por novas possibilidades e faixas que tendem ao etéreo não distanciam Campos da realidade e dos temas que tem sido explorados desde São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe. Exemplo disso acontece em Pinheiros É Bom, música em que canta do ponto de vista de um garçom para explorar os contrastes e a distância, econômica e física, que separa os bairros de Pinheiros e Vila Carrão. É como um olhar renovado para um universo há muito desvendado pelo compositor. Canções que partem do enclausuramento vivenciado pelo artista para percorrer ruas, vivenciar histórias e detalhar sensações.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.