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Crítica

Rostam

: "Changephobia"

Ano: 2021

Selo: Matsor Projects

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Vampire Weekend, HAIM e Clairo

Ouça: These Kids We Knew e Unfold You

7.5
7.5

Rostam: “Changephobia”

Ano: 2021

Selo: Matsor Projects

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Vampire Weekend, HAIM e Clairo

Ouça: These Kids We Knew e Unfold You

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2021

Desde que deixou o Vampire Weekend, em 2016, Rostam Batmanglij tem vivido um de seus períodos mais férteis. Como produtor, o multi-instrumentista norte-americano esteve diretamente envolvido com nomes como Lykke Li, Clairo, Ra Ra Riot e Haim, investindo na composição de um repertório que mesmo acessível, em nenhum momento corrompe o pop torto que tem sido incorporado pelo músico desde os primeiros registros autorais. Entretanto, foi com o primeiro álbum em carreira solo, Half-Light (2017), que o artista realmente pareceu confortável em testar os próprios limites dentro de estúdio, direcionamento evidente em algumas das principais faixas do disco, como a confessional Bike Dream, em que discuta a própria sexualidade, e outras como Don’t Let It Get To You e EOS.

É dentro desse espaço, sutilmente aberto às possibilidades, que Batmanglij apresenta ao público o segundo e mais. recente trabalho de inéditas em carreira solo. Intitulado Changephobia (2021, Matsor Projects) o álbum de 11 faixas mostra um músico ainda imerso no ambiente apresentado no disco anterior, porém, interessado em testar novos instrumentos e abordagens criativas. Canções que utilizam de ambientações jazzísticas, flertam com a produção eletrônica e doses controladas de maior experimentação. Um misto de conforto e permanente renovação estética, proposta que passa pela sonoridade incorporada em uma série de lançamentos recentes produzidos pelo artista, mesmo utilizando de um direcionamento inexato, conceito que se reflete até a derradeira Starlight.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do disco, em These Kids We Knew. Enquanto os versos da canção utilizam de uma abordagem política, discutindo o impacto do aquecimento global em três gerações diferentes – “Não tenho orgulho de onde estamos indo / Você diz que não podemos permitir a desaceleração / Mas os céus não aguentam mais” –, musicalmente, Batmanglij investe na construção de um material essencialmente irregular. São melodias enevoadas, riffs submersos e vozes sempre carregadas de efeitos, como uma tentativa do músico em contornar as próprias deficiências. Frações instrumentais e poéticas, como se o Rostam utilizasse de elementos que são melhor incorporados à medida em que o trabalho avança e se revela por completo para o ouvinte.

Vem desse mesmo direcionamento criativo o estímulo para a construção de músicas como Unfold You, 4Runner e From The Back Of A Cab. Canções que refletem a sofisticação do instrumentista no processo de composição da obra, porém, sempre adornadas por momentos de maior instabilidade, estrutura que vai do uso fragmentado dos arranjos ao saxofone de Henry Solomon. Mesmo a voz, componente que tem sido explorado de forma pouco usual por Batmanglij desde Modern Vampires of The City (2013), último trabalho do músico como integrante do Vampire Weekend, ganha novo significado ao longo do registro. São inserções inexatas, ruídos ocasionais e captações que ora funcionam como um complemento às melodias, ora parecem pensadas para sujar o registro.

Uma vez imerso nesse cenário marcado pelas possibilidades, Batmanglij se concentra na produção de faixas que transitam por diferentes direções criativas de forma sempre provocativa. É o caso de Kinney. Partindo de uma base eletrônica que parece dialogar com o último disco das meninas do HAIM, a canção rapidamente assume contornos jazzísticos que distanciam o ouvinte dos temas incorporados pelo músico no disco anterior. Sobreposições pouco usuais que crescem no uso das guitarras e distorções. A mesma versatilidade acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como em Bio18, composição que aponta para a obra de Peter Gabriel, e a já citada Starlight, música que evoca a melancolia o doce reducionismo que parece típico de Chet Baker.

Dividido entre momentos de maior instabilidade e faixas deliciosamente acessíveis, íntimas do ouvinte, Changephobia, contrario ao que o título do registro parece indicar, mostra a busca de Rostam em ampliar os próprios domínios. São canções que transitam por entre décadas e referências de forma sempre convidativa, estrutura que invariavelmente aponta para os antigos trabalhos do músico, vide a forte similaridade com as composições do Vampire Weekend, mas que a todo momento aportam em novos territórios e diferentes possibilidades. Um ziguezaguear de ideias que utiliza de conceitos há muito consolidados pelo músico norte-americano, mas que em nenhum momento tende ao óbvio, conceito que se reflete mesmo nos momentos mais contidos da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.