Image
Crítica

St. Vincent

: "All Born Screaming"

Ano: 2024

Selo: Virgin / Total Pleasure

Gênero: Rock

Para quem gosta de: PJ Harvey e Perfume Genius

Ouça: Broken Man e Big Time Nothing

8.2
8.2

St. Vincent: “All Born Screaming”

Ano: 2024

Selo: Virgin / Total Pleasure

Gênero: Rock

Para quem gosta de: PJ Harvey e Perfume Genius

Ouça: Broken Man e Big Time Nothing

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2024

Em mais de duas décadas de atuação, Annie Erin Clark já foi de tudo um pouco como St. Vincent. Da garota comportada em início de carreira à rockstar, da artista conceitual à diva pop. É como se cada novo registro de estúdio servisse de passagem para um território criativo completamente reformulado. Um campo aberto às possibilidades, sempre em constante expansão, conceito que volta a se repetir com a entrega de All Born Screaming (2024, Virgin / Total Pleasure), primeiro trabalho de inéditas produzido inteiramente por Clark.

Livre de Jack Antonoff, com quem havia colaborado nos discos anteriores, Clark parece ter alcançado um ponto de equilíbrio entre o experimentalismo que se segue até o homônimo álbum de 2014 e a busca por uma sonoridade mais acessível, postura adotada após o lançamento de Masseduction (2017). O resultado desse processo está na entrega de um material que concentra o que há de melhor na obra de St. Vincent. Um misto de calmaria e caos, suavidade e estranheza que acompanha o ouvinte até os momentos finais.

Escolhida como primeira composição do trabalho a ser revelada ao público, Broken Man funciona como uma boa representação dessa abordagem contrastante que orienta o disco. Enquanto os versos mais uma vez destacam a poesia inquietante de Clark (“Posso manter meus braços bem abertos / Mas preciso que você pregue o prego“), arranjos econômicos se revelam aos poucos, porém, mudam de forma, evocam o som industrial do Nine Inch Nails e culminam em um fechamento catártico, destacando a força da artista.

E ela não é a única. É como se cada composição fosse de um extremo a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra inconsistente. Instantes em que Clark vai do rock grosseiro de Flea, com letra provocante e bateria de Dave Grohl (Foo Fighters), ao som funkeado de Big Time Nothing, faixa que atravessa o som industrial de Trent Reznor para invadir o mesmo território dançante de Prince em 1999 (1982). Canções que destacam o esforço da musicista em continuamente perverter a própria identidade.

Exemplo disso fica bastante evidente no bloco final da obra. Em um intervalo de poucas canções, Clark vai de uma interpretação particular sobre o pop, estímulo para Sweetest Fruit, confessa homenagem à SOPHIE, ao cartunista Daniel Sotomayor e outros artistas queer que morreram precocemente, para logo em seguida se aventurar pelo reggae na inusitada So Many Planets. E não para por aí, afinal, minutos à frente, com a chegada da própria faixa-título, uma parceria com Cate Le Bon, a cantora mais uma vez muda de direção.

Mesmo quando esbarra na entrega de canções talvez contidas musicalmente, como a arrastada sequência de abertura e The Power’s Out, Clark não economiza na construção dos versos que partem do cenário ao redor (“Acabou a energia / E ninguém pode nos salvar“), para mergulhar em questões pessoais, conflitos e relacionamentos (“É por isso que eu nunca mais voltei para casa“). Composições que vão de um canto a outro, por vezes de forma irregular, porém, coerentes dentro do estranho universo proposto por St. Vincent.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.