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Crítica

The National

: "First Two Pages of Frankenstein"

Ano: 2023

Selo: 4AD

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Bon Iver e Interpol

Ouça: Tropic Morning News e The Alcott

6.0
6.0

The National: “First Two Pages of Frankenstein”

Ano: 2023

Selo: 4AD

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Bon Iver e Interpol

Ouça: Tropic Morning News e The Alcott

/ Por: Cleber Facchi 02/05/2023

Ainda que tenham se passado quatro anos desde o último trabalho de estúdio apresentado pelo The National, I Am Easy to Find (2019), a sensação que temos é a de que o grupo norte-americano não parou. Enquanto o vocalista Matt Berninger deu vida ao primeiro registro em carreira solo, Serpentine Prison (2020), Aaron Dessner produziu dois álbuns de Taylor Swift, Folklore (2020) e Evermore (2020), e ainda mergulhou na criação de How Long Do You Think It’s Gonna Last? (2021), disco em colaboração com Justin Vernon (Bon Iver) no paralelo Big Red Machine. Em todos os projetos, diferentes propostas criativas, porém, partindo de uma abordagem similar, como fragmentos instrumentais e poéticos de uma extensa obra.

Talvez por conta desse volume excessivo de lançamentos, prevalece em First Two Pages of Frankenstein (2023, 4AD), nono e mais recente trabalho de estúdio da banda, a sensação de uma obra marcada pelo cansaço. Ausente de ritmo, percepção reforçada no parcial apagamento do baterista Bryan Devendorf, o registro de onze faixas custa a avançar. São criações soturnas que seguem a trilha apontada em Trouble Will Find Me (2013), contudo, se perdem em meio a ambientações acinzentadas e estruturas tediosas que soam como sobras dos últimos inventos paralelos de Dessner, responsável pela base instrumental do disco.

Mesmo as letras de boa parte das composições parecem ancoradas em temas há muito incorporados e desgastados pelo grupo. É o caso de Eucalyptus, música que avança de forma preguiçosa, detalhando na repetição dos versos a divisão de bens de um casal após a separação. “Você deveria aceitar, porque eu não vou aceitar / Você deveria pegar, eu só vou quebrá-lo“, canta Berninger. Parte desse resultado moroso vem do próprio processo de criação do trabalho, com a banda tendo de interromper as sessões por conta de um bloqueio criativo do vocalista que precisou recorrer à própria esposa, Carin Besser, para finalizar o disco.

Marcado pelo sentimento de frustração, First Two Pages of Frankenstein chama a atenção pela forma como os próprios convidados parecem subaproveitados pela banda. Responsável por parte das vozes logo na introdutória Once Upon a Poolside, Sufjan Stevens acaba passando quase despercebido ao longo da canção. O mesmo acontece com Your Mind Is Not Your Friend e This Isn’t Helping, em que Phoebe Bridgers surge de forma pouco expressiva. A única que se destaca é Taylor Swift, em The Alcott, composição que, embora bela, acaba soando como uma criação descartada dos registros em colaboração com Dessner.

Embora consumido pela entrega de faixas pouco expressivas ou que parecem incapazes de igualar a boa fase do grupo, First Two Pages of Frankenstein reserva ao público algumas surpresas. Uma das poucas composições que destacam o uso das batidas e guitarras, Tropic Morning News é um bom exemplo disso. Pouco mais de cinco minutos em que Berninger usa da própria rotina para discutir temas como redes sociais, introversão e a sensação de deslocamento vivida pelo artista. A mesma potência pode ser percebida na crescente Grease in Your Hair, música que parece saída de obras como High Violet (2010).

Pena que esses momentos de maior grandeza e fluidez são insuficientes para romper com o som arrastado que consome a experiência do ouvinte em First Two Pages of Frankenstein. Como indicado logo na faixa de abertura, Once Upon a Poolside, tudo se revela ao público em uma medida própria de tempo, proposta que valoriza o uso de pequenas orquestrações e encontros com diferentes colaboradores, porém, se desdobra de forma pouco atrativa. É como uma longa jornada sentimental que externaliza algumas das principais inquietações de Berninger, mas que parecem trabalhadas de forma a não estreitar laços com o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.