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Crítica

The Smile

: "The Smile at Montreux Jazz Festival, July 2022"

Ano: 2022

Selo: XL Recordings

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: Free In the Knowledge e A Hairdryer

8.0
8.0

The Smile: “The Smile at Montreux Jazz Festival, July 2022”

Ano: 2022

Selo: XL Recordings

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: Free In the Knowledge e A Hairdryer

/ Por: Cleber Facchi 02/01/2023

De todos os trabalhos que foram revelados ao público nos últimos meses, A Light for Attracting Attention (2022), bem sucedida estreia de Thom Yorke, Jonny Greenwood e Tom Skinner com o paralelo The Smile, segue como um dos mais interessantes. Próximo e ao mesmo tempo distante de tudo aquilo que os dois principais integrantes vinham desenvolvendo com o Radiohead, o registro parecia transportar para dentro de estúdio tudo aquilo que os três instrumentistas vinham desenvolvendo em uma série de apresentações ao vivo. Entretanto, é em seu habitat natural, em cima dos palcos, que a banda realmente diz a que veio.

Gravado durante a passagem do trio britânico pelo cultuado festival de Montreux, na Suíça, The Smile at Montreux Jazz Festival, July 2022 (2022, XL Recordings) destaca a potência criativa e domínio de cada colaborador durante toda a execução do espetáculo. Em uma estrutura progressiva, cada composição parece pensada de forma a capturar a atenção do público e preparar o terreno para a canção seguinte. E isso fica bastante evidente na introdutória Pana-Vision. Talvez contida quando próxima do restante da obra, a faixa funciona como um importante ato de abertura, crescendo lentamente nos pianos e vozes de Yorke.

Com o terreno preparado, chega a vez de Thin Thing destacar não apenas força das guitarras, proposta que aponta para as criações de Yorke e Greenwood em The Bends (1995), como a presença de Skinner. Ex-integrante do Sons of Kemet, o baterista encolhe e cresce durante toda a execução do trabalho, reforçando a essência jazzística e fino toque de imprevisibilidade que orienta as criações da banda. A própria The Opposite, vinda logo em sequência, destaca nos minutos iniciais a fluidez do instrumento, proposta que logo se completa pelo uso contrastante das guitarras e linha de baixo que preenche toda e qualquer lacuna.

Passado esse momento de maior agitação, Speech Bubbles abre passagem para o lado contemplativo do registro. Enquanto a bateria de Skinner se projeta de forma discreta, camadas de guitarras se conectam diretamente aos vocais fantasmagóricos de Yorke, estrutura que vai de encontro ao material produzido pelo artista para a trilha sonora de Suspiria (2018). Entretanto, é Greenwood quem brilha ao longo da canção. Responsável pelos pianos e sintetizadores da faixa, o músico concede ao material um caráter quase transcendental, rompendo com a crueza e forte aceleração que se apodera de parte expressiva do álbum.

Vem justamente dessa contrastante combinação entre calmaria e caos o estímulo para o momento de maior beleza do trabalho. Enquanto Free in the Knowledge, com sua base acústica, traz de volta a doce melancolia da fase OK Computer (1997), A Hairdryer, vinda logo em sequência, reforça a urgência do som produzido pelo The Smile. São pouco menos de 12 minutos em que o trio amplia criativamente tudo aquilo que vinha desenvolvendo em estúdio. Um turbulento exercício criativo que preserva a essência do trio, porém, vai de encontro ao som de veteranos como Neu! e Can, duas importantes referências para a banda.

Tudo é explorado de forma tão intensa que The Smoke, vinda logo em sequência, é praticamente engolida. Nada que a derradeira You Will Never Work in Television Again não de conta de recuperar. Primeira faixa do grupo a ser apresentada ao público, a canção não somente evidencia a força do trio nos palcos, como destaca a capacidade da banda em testar os próprios limites. Da bateria de Skinner às guitarras ruidosas que invadem a composição, tudo se projeta de maneira grandiosa, proposta que quase supre a ausência de outras músicas de A Light for Attracting Attention que infelizmente acabaram de fora do registro ao vivo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.