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Ano: 2023

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock, Pop Psicodélico, Lo-Fi

Para quem gosta de: Tame Impala e Toro Y Moi

Ouça: That Life e Weekend Run

7.3
7.3

Unknown Mortal Orchestra: “V”

Ano: 2023

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock, Pop Psicodélico, Lo-Fi

Para quem gosta de: Tame Impala e Toro Y Moi

Ouça: That Life e Weekend Run

/ Por: Cleber Facchi 30/03/2023

Desde o início da carreira, o Unknown Mortal Orchestra funciona como uma combinação de elementos bastante específicos. Enquanto a voz de Ruban Nielson se projeta com parcial timidez, escondida em meio a captações caseiras e efeitos ocasionais, camadas de guitarras e batidas calculadas ajudam a delimitar o rock compacto que marca as criações do grupo neozelandês. Claro que, vez ou outra, essa estrutura é momentaneamente rompida, como no repertório de Multi-Love (2015), porém, tudo regressa ao mesmo território criativo e conceitos que tem sido incorporados em estúdio desde o homônimo disco de estreia.

Primeiro álbum duplo produzido pela banda neozelandesa e sequência ao material entregue em Sex & Food (2018), V (2023, Jagjaguwar) é praticamente um conjunto de regras e estruturas que caracterizam o tipo de som que há mais de uma década tem sido explorada pelo Unknown Mortal Orchestra. Das guitarras granuladas que mergulham no soul psicodélico dos anos 1960 e 1970, passando pelo uso complementar dos sintetizadores, tudo parece pensado para acompanhar as letras que se dividem entre e momentos de maior vulnerabilidade emocional, pequenos delírios lisérgicos, crises existenciais e cenas descritivas.

Com mais de seis minutos de duração, a introdutória The Garden funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto camadas de guitarras se revelam em pequenas doses, vozes empoeiradas vão de questionamentos ocasionais (“Imagine voar sobre cercas vivas / Quem sabe para onde ela vai?“), a momentos de evidente fragilidade (“De alguma forma eu sinto falta dela / Apenas um tipo solitário de perdedor“). É como um convite a se perder pelas inquietações vividas por Nielson durante a produção do trabalho. Canções que costuram memórias recentes ao isolamento vivivo na pandemia de Covid-19.

Embora marcado pela melancolia dos versos e temas incorporados por Nielson dentro de cada canção, V está longe de parecer um registro consumido pela dor. Parte desse resultado vem do uso contrastante dos arranjos. São guitarras litorâneas que transportam para dentro de estúdio a mesma atmosfera de Hilo, no Hawaii, onde parte das sessões do trabalho foram gravadas. A própria relação do artista com o AOR e jazz produzido na década de 1970 rompe com essa lógica sorumbática, como nos teclados de The Window e nas guitarras ensolaradas que se apoderam de músicas já conhecidas como That’s Life e Meshuggah.

Vem justamente dessa ânsia de Nielson em revelar previamente parte expressiva das canções um dos principais problemas envolvendo a experiência de ouvir o disco. Por se tratar se uma banda com uma sonoridade bastante característica, o número excessivo de faixas apresentadas antes do lançamento de V comprometeu ainda mais o senso de novidade em torno da obra. São músicas como Weekend Run, I Killed Captain Cook, Layla e Nadja que, embora marcadas pelo refinamento estético do Unknown Mortal Orchestra, soam de forma desgastada, rompendo com o frescor esperado de um trabalho do gênero.

Felizmente, Nielson reserva ao público algumas surpresas. É o caso de The Beach, música que continua a vagar pela produção dos anos 1970, porém, em uma inusitada combinação de elementos que vai das pistas de dança ao parcial recolhimento em um intervalo de pouquíssimos minutos. A própria Keaukaha, mesmo partindo de uma abordagem atmosférica, transporta o som produzido pelo Unknown Mortal Orchestra para um cenário completamente novo, ampliando os limites da obra. São pequenos respiros criativos, mas que em nenhum momento rompem de maneira efetiva com o que há muito parece consolidado pela banda.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.