Image
Crítica

Yves Tumor

: "Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume (Or Simply, Hot Between Worlds)"

Ano: 2023

Selo: Warp

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Dean Blunt e Eartheater

Ouça: Echolalia e Heaven Surrounds Us Like a Hood

8.6
8.6

Yves Tumor: “Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume (Or Simply, Hot Between Worlds)”

Ano: 2023

Selo: Warp

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Dean Blunt e Eartheater

Ouça: Echolalia e Heaven Surrounds Us Like a Hood

/ Por: Cleber Facchi 22/03/2023

A mudança de direção iniciada em Safe in the Hands of Love (2018) continua a estimular criativamente o trabalho de Yves Tumor. Em Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume (Or Simply, Hot Between Worlds) (2023, Warp), o cantor, compositor e produtor norte-americano continua a testar os limites da própria obra na mesma medida em que potencializa uma série de elementos incorporados durante a entrega do disco anterior, Heaven to a Tortured Mind (2020). São canções que evocam o som de veteranos como Prince e David Bowie, porém, partindo de uma interpretação retorcida, própria do artista.

Composição de abertura, God Is A Circle sintetiza de forma bastante eficiente esse resultado. Inaugurada em meio a vozes berradas, a canção cresce em uma combinação de guitarras carregadas de efeitos, batidas e sobreposições que rompem com qualquer traço de conforto. Instantes em que Tumor tende ao experimentalismo dos primeiros trabalhos, porém, estreita relações com o pop, estrutura que ainda abre passagem para a música seguinte, Lovely Sewer, um pós-punk reducionista em que usa trechos de One Hundred Years, do The Cure, e destaca o uso das vozes femininas, conceito apresentado no disco anterior.

Esse mesmo diálogo com o passado, porém, partindo de uma abordagem diferente, volta a se repetir em Meteora Blues, canção que parece saída de um disco do The Smashing Pumpkins, porém, sustenta nos versos a vulnerabilidade de Tumor. “Um único vislumbre de amor ardente / O precioso som da sua última voz“, canta. É como um delicado exercício de exposição emocional. Frações poéticas que funcionam como um passeio pela mente atormentada do artista, conceito reforçado na canção seguinte, Parody, um R&B psicodélico que se engrandece pelo interlúdio atmosférico revelado segundos antes pelo compositor.

A partir desse ponto, fica bastante evidente a capacidade do artista em transitar por entre estilos e colidir diferentes gêneros dentro de cada canção sem necessariamente perder o controle da própria obra. Já conhecida do público, Heaven Surrounds Us Like A Hood vai do neo-soul ao rock empoeirado dos anos 1970 de forma sempre imprevisível, como uma soma do que há de melhor nas criações de Tumor. Nada que prepare o ouvinte para a faixa seguinte, Operator, música em que combina guitarras carregadas de efeitos com a urgência das batidas e vozes em coro de líderes de torcida (“Seja agressivo, seja agressivo“).

Minutos à frente, em In Spite of War, Tumor continua a investir na aceleração dos elementos, porém, rompe momentaneamente com a riqueza de detalhes explícita no restante da obra. É como uma curva breve que antecede as diferentes camadas de Echolalia, canção que reforça o aspecto emocional do registro na mesma proporção em que amplia musicalmente os limites do trabalho. Uma delirante combinação de sintetizadores, batidas e vozes, estrutura que desemboca na contrastante Fear Evil Like Fire, um rock esquelético que mais uma vez reforça a relação do artista com a música produzida na década de 1980.

Com a chegada de Purified by the Fire, música concebida a partir de samples de I Don’t Wanna Cry, um soul empoeirado dos anos 1970, Tumor não apenas rompe com o restante do trabalho, como ainda abre passagem para a derradeira Ebony Eye e estabelece um elemento de conexão com o material entregue em Safe in the Hands of Love. São orquestrações sublimes, vozes e arranjos que destacam a potência do artista em estúdio, porém, entrecortados pelo atravessamento torto de informações. Uma constante perversão do óbvio, proposta que orienta com incerteza e doce fascínio a experiência do ouvinte até os minutos finais.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.