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Crítica

Zola Jesus

: "Arkhon"

Ano: 2022

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Chelsea Wolfe e Austra

Ouça: The Fall e Sewn

7.4
7.4

Zola Jesus: “Arkhon”

Ano: 2022

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Chelsea Wolfe e Austra

Ouça: The Fall e Sewn

/ Por: Cleber Facchi 08/07/2022

A imagem de capa de Arkhon (2022, Sacred Bones Records), mais recente trabalho de estúdio de Zola Jesus, funciona como um convite sombrio. Escondida em meio a formações rochosas e texturas, Nika Danilova, grande idealizadora do projeto, parece aguardar o ouvinte para a jornada poética marcada pelo uso de temas existenciais e momentos de maior melancolia. “Todo mundo que eu conheço está perdido / As labaredas desapareceram, escurecendo / Continuamos andando pelas ervas daninhas / Esperando uma libertação repentina“, detalha na introdutória Lost, música que sintetiza a angústia que consome o disco.

E não poderia ser diferente. Ainda que a cantora, compositora e produtora norte-americana tenha se aventurado pela construção de obras soturnas ao longo de toda a última década, o isolamento vivido durante o período pandêmico parece ter contribuído ainda mais para esse resultado durante a formação do presente disco. Da construção dos arranjos, marcados pelo uso de cordas e sintetizadores cinzentos, passando pelo uso das vozes e refinamento dado aos versos, tudo soa como uma soma dos tormentos e dores sentidas pela artista desde o lançamento do trabalho anterior, o também sombrio Okovi (2017).

Contudo, diferente do registro que o antecede, marcado pelo uso destacado das batidas e intensa relação da artista com a produção eletrônica, Danilova investe em uma obra de essência atmosférica, reforçando o aspecto contemplativo detalhado nos versos. Uma das primeiras composições do disco a serem reveladas ao público, Desire funciona como um bom exemplo desse resultado. São pianos reducionistas que se espalham em um intervalo de mais de cinco minutos de duração, como um minucioso pano de fundo instrumental que tende a potencializar as vozes e sentimentos lentamente despejados pela compositora.

Mesmo quando dialoga com os temas eletrônicos de Okovi, como na canção seguinte, Fault, Danilova segue em uma medida própria de tempo, sem pressa. Não por acaso, a cantora decidiu colaborar em estúdio com o experiente Randall Dunn. Acostumado a contribuir para os temas atmosféricos de nomes como Sunn O))), com quem trabalhou em obras como Monoliths & Dimensions (2009) e Kannon (2015), o produtor auxilia a artista na montagem de um repertório que exige ser absorvido em pequenas doses. Nada que prejudique a construção de faixas regidas pela parcial urgência dos elementos, quebras conceituais e tensões rítmicas.

É o caso Sewn. Faixa mais extensa do disco, a canção soa como uma intensa combinação de elementos pensados para bagunçar a interpretação do ouvinte. São incontáveis camadas de sintetizadores, batidas e vozes trabalhadas como um instrumento torto. Outra que chama a atenção do ouvinte pelo andamento dissonante é a já conhecida The Fall. Fatiada em pequenos blocos, a composição parte de uma base puramente atmosférica, íntima do restante da obra, porém, acaba flertando de maneira bastante inusitada com o pop, muda de direção e, por fim, mergulha em um ambiente marcado pelo aspecto labiríntico.

Pena que esses momentos de maior ruptura que surgem ao longo da obra são insuficientes para distanciar o registro do que parece ser uma abordagem excessivamente íntima dos antigos trabalhos de Zola Jesus. Observado de maneira atenta, parte expressiva do repertório de Arkhon gira em torno dos mesmos temas e conceitos testados pela cantora em obras como Conatus (2011) e Tiga (2014). Canções que preservam a identidade criativa da artista, porém, tendem à repetição, problema também enfrentado por Pharmakon, Chelsea Wolfe e outros nomes que utilizam desse mesmo direcionamento estético tão característico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.