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Crítica

Zopelar

: "Mensagem"

Ano: 2021

Selo: Soul Clap Records

Gênero: Eletrônica, Funk

Para quem gosta de: Pessoas Que Eu Conheço, Guerrinha e Tui

Ouça: Samba Estelar e Funk da Meia Noite

7.8
7.8

Zopelar: “Mensagem”

Ano: 2021

Selo: Soul Clap Records

Gênero: Eletrônica, Funk

Para quem gosta de: Pessoas Que Eu Conheço, Guerrinha e Tui

Ouça: Samba Estelar e Funk da Meia Noite

/ Por: Cleber Facchi 20/07/2021

Revisitar o passado, porém, mirando o futuro. Em Mensagem (2021, Soul Clap Records), mais recente criação do produtor paulistano Pedro Zopelar, cada composição parece dançar pelo tempo de forma tão atualizada quanto deliciosamente nostálgica. São fragmentos instrumentais e rítmicos que prestam uma confessa homenagem aos bailes dos anos 1970 e 1980, como uma tentativa do artista em dar novo acabamento ao material incorporado pelas antigas equipe de som que popularizam o estilo no Brasil. “Ao longo de cinquenta anos, a dance music brasileira se transformou em gêneros e sons distintos, do techno underground ao baile funk, mas as raízes sempre permaneceram. Tudo se resume ao poder de reunir pessoas para desfrutar da energia da dança e da diversão, e o ritmo fundamental por trás do movimento é o funk“, comentou no texto de apresentação do trabalho.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do registro, em Orange Sunlight. São pouco mais de quatro minutos em que Zopelar, produtor que já colaborou com nomes como L’Homme Statue e Teto Preto, convida o ouvinte a dançar. Do uso calculado das batidas, sempre precisas, passando pelo sintetizador que assume a função de linha de baixo, tudo soa como uma tentativa do artista em incorporar a mesma atmosfera, fluidez e ritmo quente do funk de maneira particular. Um ziguezaguear de ideias e tendências que potencializa de forma ainda mais acessível tudo aquilo que o músico apresentou há poucos meses, durante o lançamento do retro-futurista Universo (2021), obra em que utiliza de uma abordagem jazzística e diferentes diálogos com a música brasileira.

Parte desse resultado fica bastante evidente em Samba Estelar. Composição que mais se aproxima do material entregue pelo produtor em Universo, a canção parte de uma base marcada pelo uso de ritmos nacionais, porém, cresce na colorida combinação de elementos e ambientações eletrônicas que soam como uma versão futurística do som produzido por veteranos como Marcos Valle e Banda Black Rio. Esse mesmo caráter sintético acaba se refletindo na própria faixa-título do álbum. São melodias discretas e ambientações que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, como uma interpretação ainda mais sensível do mesmo repertório apresentado em Joy of Missing Out 2020), de onde vieram preciosidades como Driving To The Sun e Sozinho a Noite.

Minutos à frente, chega a vez de Jump, faixa que aponta para o passado, porém, substituindo o som funkeado dos anos 1970 pelas batidas e elementos típicos da década de 1980. São encaixes certeiros que evocam a obra de artistas como Afrika Bambaataa, mesmo preservando tudo aquilo que Zopelar tem produzido desde os primeiros registros autorais. É como um alicerce rítmico para o material entregue na canção seguinte, Fly With U. Menos urgente em relação ao restante da obra, a música evidencia a capacidade do produtor em jogar com os instantes. São camadas de sintetizadores, ruídos e ambientações eletrônicas que garantem maior profundidade à criação, como um ponto de equilíbrio entre o repertório explorado em Universo e as composições reveladas no presente disco.

Essa mesma riqueza de detalhes acaba se refletindo na composição seguinte Funk da Meia Noite, música que, como o próprio nome aponta, utiliza de uma atmosfera noturna para ampliar os limites da obra. O destaque acaba ficando por conta da construção das batidas. É como se Zopelar partisse do mesmo direcionamento criativo incorporado em Orange Sunlight, porém, mergulhando na sobreposição dos elementos e quebras conceituais que manipulam a interpretação do ouvinte. Não por acaso, passado esse momento de maior turbulência, o álbum desacelera e ganha novo sentido em Second Chance. Precioso respiro criativo, a canção ganha forma aos poucos, sem pressa, tratamento que vai do reducionismo das batidas ao maior refinamento dado aos sintetizadores.

Com Mônica como faixa de encerramento do trabalho, Zopelar não apenas se distancia do restante da obra, como abre passagem para um novo e inusitado território criativo. Da construção das batidas, sempre irregulares, tortas, passando pelo uso destacado dos instrumentos, ruídos e melodias fragmentadas, cada componente da canção encanta pela forma como o paulistano costura diferentes propostas sem necessariamente perder a coerência. São ecos de Madlib e Flying Lotus, porém, preservando a identidade e curioso diálogo do artista com a música brasileira. Uma inusitada combinação de elementos que resgata parte do material apresentado ao longo do disco, mas que a todo momento aponta direções e deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos do produtor.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.