Disco: “America”, Dan Deacon

/ Por: Cleber Facchi 07/08/2012

Dan Deacon
Experimental/Electronic/Avant-Garde
http://www.dandeacon.com/

 

Por: Cleber Facchi

Em se tratando de brincar com os ruídos, texturas, massas instrumentais e as mais inusitadas particularidades sonoras Dan Deacon é um verdadeiro mestre. Desde muito novo habituado a uma formação com foco na música erudita, Deacon encontrou nos experimentos eletrônicos um mecanismo de distinção ao que tantos outros já vinham desenvolvendo. Apaixonado pelas mais complexas formas sonoras produzidas, o nova-iorquino de West Babylon vem desde o começo da década de 2000 ocupando um espaço particular dentro da vanguarda eletrônica que define toda a extensão da nova música estadunidense, território este que ele utiliza para expandir todos os limites de sua recente e maior obra até aqui, America.

Primeiro registro do compositor pelo selo Domino – o mesmo de nomes como Dirty Projectors, Hot Chip e Animal Collective -, com o novo trabalho Deacon assume uma postura distinta em relação aos projetos apresentados previamente, abandonando a sonoridade descompromissada que antes definia sua obra em prol de um registro de proporções grandiosas e que segue delimitado pela seriedade. Tão inventivo quanto em seus iniciais trabalhos lançados de forma independente no começo do novo século, o produtor converte o que poderia ser compreendido por uma maioria de ouvintes como meros ruídos em produções volumosas, operísticas e intencionalmente orientadas por um contexto épico.

Completamente distante das virtudes comerciais dos dois lançamentos anteriores do produtor, em America Deacon deixa fluir de maneira adulta toda sua aproximação com o cenário erudito em suas inúmeras formas. Muito embora a metade inicial do trabalho ecoe de forma natural o mesmo tempero acessível e por vezes pop do que fora desenvolvido (principalmente) em Spiderman of the Rings (2007), assim que o músico explora os ruídos sóbrios de Crash Jam, sexta faixa do álbum, os rumos passam a ser outros. Sai a aproximação com o pop que tanto caracteriza True Thrush, Lots e Prettyboy (provavelmente a criação mais “convencional” da carreira de Deacon) para que toda uma carga de novas experiências se apoderem da obra do norte-americano.

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Logo de cara a epilepsia desconcertante de Guilford Avenue Bridge torna claro que o território assumido por Deacon será completamente outro. Mesmo que o produtor até estimule o crescimento de faixas voláteis – True Thrush parece intencionalmente projetada como um single de sucesso -, nada faz lembrar o que ele havia testado em Wooody Wooodpecker, The Crystal Cat e Jimmy Roche – músicas que em alguma medida nos convidavam à dança. Deacon a exemplo do que Animal Collective atingiu com Merriweather Post Pavilion (2009), Fuck Buttons com Tarot Sport (2009) e Oneohtrix Point Never com o disco Replica (2011), faz crescer um disco que mesmo próximo dos registros passados, rompe com todos os limites ou marcas prévias do compositor.

Em alguma medida, observar os dois trabalhos anteriores a partir do presente álbum faz com que eles soem como uma preparação ao que Deacon desenvolve atualmente. America é sem dúvidas o trabalho mais coeso, dinâmico e até mesmo conceitual de toda a trajetória do produtor. Melhor exemplo dessa aproximação com um resultado temático está na extensa condução de USA, faixa divida em quatro atos e inevitavelmente a maior (em muitos aspectos) criação do artista até aqui. Próxima de maneira especial da educação erudita do compositor, as quatro faixas – respectivamente Is A Monster, The Great American Desert, Rail e Manifest – unem elementos da música clássica com batidas esquizofrênicas e samples ruidosos que tendem inevitavelmente a um resultado de proporções épicas.

Mais do que um registro de descobertas e reformulações, em America Dan Deacon mostra o quão próximo está de grandes e experientes representantes do cenário Avant-Garde norte-americano ou mesmo mundial. Como se fosse uma criança inquieta em terra de gigantes, o músico produz um trabalho que em nada fica devendo ao que Tim Hecker, Fennesz ou Daniel Lopatin expõem em suas respectivas obras, resultado assertivo que marca tanto a sutileza de Prettyboy, os acertos melódicos de True Thrush ou mesmo a grandiosidade crescente do quarteto USA. Tão grande quanto o território que carrega no título, America transporta um infinito catálogo de sons e díspares referências que parecem se alinhar apenas na cabeça e nos inventos nunca óbvios de Deacon.

America (2012, Domino)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Fuck Buttons, Animal Collective e Battles
Ouça: True Thrush, Lots e EUA (I, II, III e IV)

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.