Disco: “Amor Violento”, Quarto Negro

/ Por: Cleber Facchi 09/07/2015

Quarto Negro
Indie/Alternative/Post-Punk
https://www.facebook.com/quartonegro

Amor violento (2015, Balaclava Records), segundo álbum de estúdio da banda paulistana Quarto Negro é uma obra difícil de ser explorada. Arranjos de cordas e instrumental sufocante. Versos densos, como um retrato honesto (e triste) de qualquer separação. Composições longas, dramáticas, propositadamente arrastadas. Uma constante sensação de peso e descrença que prende, perturba e até mesmo conforta o ouvinte durante quase uma hora de duração.

Verdadeiro martírio sentimental, por vezes íntimo dos pesadelos mais profundos de qualquer ouvinte, o sucessor de Desconocidos (2011) está longe de parecer um álbum de fácil interpretação. De fato, é necessário tempo até conseguir apoio ou mínimo equilíbrio dentro do ambiente instável montado por Eduardo Praça e Thiago Klein. Como um tecido esvoaçante, vozes e arranjos balançam da abertura ao fechamento do disco, resultando em uma obra dividida entre a hipnose e permanente desconforto.

Oposto ao conceito do primeiro disco da banda, uma obra homogênea, porém, marcada pela continua formação de brechas e canções “comerciais”, Amor Violento é um registro que precisa ser apreciado em completude. Dos pianos comportados em Filhos do Frio, passando pelas guitarras de Há um Oceano entre nós, até alcançar a derradeira faixa-título, cada música espalhada pela obra serve de estimulo para a canção seguinte. Capítulos (musicais) em uma lenta narrativa melancólica.

Em se tratando da estrutura musical montada para o novo disco, uma clara evolução. Livre do encaixe descomplicado de pianos e vozes melódicas, Amor Violento é uma obra marcada pelos ruídos e tonalidade sombria dos temas instrumentais. Como uma espiral lenta, solos de guitarras, efeitos de distorção e até mesmo os vocais são orquestrados de maneira soturna, tão íntimos de veteranos como Echo and the Bunnymen – influência confessa do grupo -, quanto de “novatos” como Arcade Fire e Grizzly Bear.

Instrumento predominante, mais do que um simples complemento em relação ao disco de 2011, as guitarras, transportam a banda para todo um novo universo de preferências musicais. O que antes era um cenário dominado pelas emanações obscuras do Pós-Punk, hoje revela um oceano de cores e ruídos que vão do Shoegaze (Há um oceano entre nós) ao rock psicodélico (Espírito Vago). Mesmo nos instantes mais “acessíveis” do disco, caso de Julien, 3012 e Ela, é a busca por um caminho sinuoso, complexo, que orienta as composições e prende a atenção do ouvinte.

Gravado na cidade de Portland, Oregon, o álbum produzido pela dupla Brandon Summers e Benjamin Weikel, da banda Helio Sequence, é um verdadeiro catálogo de ideias. Com participação de membros das bandas Menomena e The Thermals, cada música cresce em meio a diferentes conceitos, arranjos instáveis e sentimentos, revelando lentamente um imenso labirinto musical.

Amor violento (2015, Balaclava Records)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Jair Naves, Baleia e Vanguart
Ouça: 3012, Há um Oceano entre nós e Filhos do Frio

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.