Disco: “…And Star Power”, Foxygen

/ Por: Cleber Facchi 11/11/2014

Foxygen
Psychedelic/Indie/Rock
http://foxygentheband.com/

A julgar pelos conceitos incorporados desde a estreia do Foxygen com Take the Kids Off Broadway, de 2012, Sam France e Jonathan Rado encontraram no rock dos anos 1960 a base para um exercício de ambientação. Diferente de outros grupos recentes, caso de MGMT, Temples ou mesmo da gigante Tame Impala, o duo californiano pouco se interessa em adaptar o som letárgico incorporado há mais de quatro décadas. Pelo contrário, cada novo registro se transforma em uma obra de transposição.

Ponto alto dessa viagem nostálgica foi a passagem por We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic (2013), álbum que não apenas transportou a dupla norte-americana para o fim dos anos 1960, como ainda carregou o próprio ouvinte. Vocalizações suaves, versos marcados pela confissão, LSD e um passeio quase documental pelo “Verão do Amor”. Não fosse o anúncio da gravadora e a já conhecida identidade da banda, talvez o segundo álbum da Foxygen passasse despercebido como uma peça esquecida de 1967.

Em uma estrutura quase linear, como um passeio pela linha do tempo do rock clássico, France e Rado mergulham agora na década de 1970. Típico retrato do período em que busca inspiração, …And Star Power (2014, Jagjaguwar) abafa a suavidade do antecessor em meio a guitarras distorcidas, versos adornados pela crueza e declarados abusos lisérgicos. São 24 músicas inéditas, 82 minutos de duração e uma representação quase caricatural do cenário musical pré-Punk.

Misto de sátira e homenagem, cada música do registro se articula como a representação de uma vertente, cena ou sonoridade específica. Há um pouco de Pink Floyd nas harmonias de Cosmic Vibrations ou mesmo nos quatro atos de Star Power Suite; Lou Reed e David Bowie no pop experimental de I Don’t Have Anything/The Gate; Brooklyn Police Station soa como uma canção suja de Iggy Pop e até a dupla Suicide rasga temporariamente o disco na curtinha Hot Summer. Como dito, desenvolver um “som novo” nunca foi o propósito do Foxygen.

Sendo assim, qual o sentido em ouvir …And Star Power? Não seria melhor regressar aos clássicos e obras originais que inspiram a banda? Da mesma forma que os dois últimos trabalhos em estúdio, a principal ferramenta de estímulo para o presente disco está nas letras. Musicalmente, o terceiro álbum do Foxygen é apenas mais um diálogo com o passado, porém, cada verso espalhado (de forma aleatória) pelo registro serve como ponte para o presente. Caótico, grande parte do conceito lírico da obra detalha os conflitos internos e externos que a dupla vem enfrentando desde o último ano. Um exercício de bagunçar e ao mesmo tempo prender a atenção do ouvinte até o último acorde.

Ponto de encontro para veteranos (Of Montreal, The Flaming Lips) e novatos (White Fence) da música psicodélica, …And Star Power pode até não refletir a mesma coerência do antecessor, entretanto, em nenhum instante soa como um tropeço na carreira da banda. Confuso e barulhento, o álbum é apenas um retrato honesto do período explorado pelo Foxygen.

 

…And Star Power (2014, Jagjaguwar)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Wampire, MGMT e Temples
Ouça: Cosmic Vibrations, I Don’t Have Anything/The Gate e Coulda Been My Love

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.