Disco: “We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic”, Foxygen

/ Por: Cleber Facchi 22/01/2013

Foxygen
Psychedelic/Indie/Rock
http://foxygen.bandcamp.com/

 

Foxygen

Ainda que ínfima perto da grandiosidade e da influência do movimento Hippie, a morte de Scott McKenzie em Agosto do último ano sepultou parte importante do que foi desenvolvido ao longos dos anos 1960 e 1970. Responsável por um dos maiores hinos da produção musical da época, San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair) – faixa resgatada e eternizada em 2005 pelo trio austríaco Global DeeJays -, McKenzie sobrevive de maneira criativa mesmo após sua morte. Afinal, difícil passear pelas emanções psicodélicas e caseiras do recém-lançado We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic (2013, Jagjaguwar) sem perceber a essência do compositor (e outros grandes do gênero) dentro de cada faixa.

Sequência inspirada do que Jonathan Rado e Sam France do Foxygen vêm construindo desde 2005, o primeiro registro oficial dos parceiros californianos parte exatamente de onde a dupla parou no último ano, aperfeiçoando a lisergia e os ecos sessentistas que banham o EP Take the Kids Off Broadway. Menos esparso que o registro antecessor, o novo álbum condensa em um espaço único de nove composições parte do que caracteriza toda a produção musical lançada há quase cinco décadas. Anos de rebeldia, sonorizações bucólicas e preferências que tendem inevitavelmente aos pilares do amor livre, mas que se apresentam de maneira atual, tanto nos versos, traçando preferências ao amor dos anos 2000, como nos sons, que abandonam o toque repetitivo para se modernizar.

Tal qual o resultado que orienta a produção alinhada no último EP, ao alcançar a seriedade de um registro completo a dupla mantém constante a busca por um som dual mezzo acústico, mezzo elétrico. A medida possibilita ao duo uma maior aproximação com uma variedade de referências nostálgicas, se aproximando de forma curiosa de marcas relacionadas ao rock inglês (como os instantes mais orgânicos de bandas como The Kinks e The Rolling Stones), ao mesmo tempo em que uma conexão com o cancioneiro norte-americano (entenda-se Bob Dylan e Neil Young) ocupa um mesmo espaço. Uma divisão constante entre o urbano e o bucólico que contribuem para alimentar criativamente o disco até os últimos instantes.

Há quem possa atestar a falta de originalidade da banda, afinal, quantos não são os artistas que diariamente se encantam pela mesma proposta musical? A diferença está na maneira como a dupla sustenta referências antigas e por diversas vezes desgastadas graças ao uso adequado das melodias e a busca constante pelo pop. Mesmo perdido em experimentos psicodélicos (como os que alimentam On Blue Mountain), em nenhum momento no decorrer da obra a banda se distancia do ouvinte, utilizando das letras carregadas pelas confissões como um estímulo. Surgem assim composições carregadas pela acessibilidade (lírica e sonora), marca que alimenta com dor e pequenas sutilezas músicas como San Francisco, Shuggie e principalmente o hino neo-hippie No Destruction.

Mais do que simplesmente investir em composições tomadas pelo toque comercial, musicalmente o álbum jamais se perde em redundâncias que o transformariam em mais um projeto descartável. Exemplo eficiente disso está na execução da faixa que dá nome ao disco. Composição mais acelerada e distinta do trabalho, a canção se relaciona abertamente com tudo que ecoa na cena californiana recente, brincando com os mesmos sons que marcam as esquizofrenias de Ty Segall, bem como com a psicodelia suja de grupos externos ao mesmo cenário, passeando por Unknown Mortal Orchestra, King Tuff e até The Woods. Descompromissada, a faixa assume inúmeras possibilidades, servindo como fechamento para a épica Oh No 2.

De proposta inovadora, ainda que intencionalmente nostálgica, o álbum arremessa em poucos segundos o ouvinte para o final da década de 1960 – sem necessariamente (o que se traduz em um acerto) se desligar das referências atuais. A medida estimula a construção de uma obra que a exemplo de Lonerism (2012) dos australianos do Tame Impala ou ainda Days (2011) do Real Estate, se relaciona abertamente com os sons e marcas do passado em busca de estímulos, sem jamais fazer disso um instrumento de cópia, mas um complemento para a solução de um resultado autêntico.

 

 

We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic (2013, Jagjagwar)

 

Nota: 8.5
Para quem gosta de: The Woods, King Tuff e Ty Segall
Ouça: No Destruction, San Francisco e Shuggie

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.