Disco: “Apocalypse”, Bill Callahan

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2011

Bill Callahan
Folk/Singer-Songwriter/Alt. Country
http://www.myspace.com/whaleheart

 

Por: Cleber Facchi

Se para alguns a genialidade é algo vindouro desde o nascimento, para outros ela pode ser alcançada com o passar dos anos e da prática. Seguindo esse segundo grupo, o norte-americano Bill Callahan volta com Apocalypse (2011), quarto trabalho de sua carreira solo e um fruto de puro detalhismo, sensibilidade e longas doses de uma instrumentação primorosa, que dessa vez rompe as barreiras de um singelo registro folk, passeando por cenários e sonorizações ampliadas.

Desde meados dos anos 90 atuando sob o nome de Smog, Callahan não sabe o que é descanso. Seu último trabalho com a antiga banda – A River Ain’t Too Much to Love – foi lançado em 2005, e após um ano de preparações voltou em 2007 com o fraco Woke on a Whaleheart, mas o melhor ainda estava por vir. Lançado em 2009, Sometimes I Wish We Were an Eagle resgatava toda a funcionalidade e beleza de composições da antiga banda do músico, figurando fácil entre os principais lançamentos daquele ano. Após um disco de “Best Of” ao vivo – Rough Travel for a Rare Thing (2010) – finalmente temos o retorno do compositor, e tal qual seu disco de 2009, um verdadeiro achado.

São apenas sete faixas, mas cada uma conta com o tempo mais do que suficiente para que o músico de Silver Spring possa nos impressionar tanto com sua voz quanto com uma instrumentação sofisticada e plural. Quem for atrás de Apocalypse esperando por quarenta ou cinquenta minutos de sofrimento embalados por acordes simplistas de um violão não sabe o que o espera. O músico abre espaço para que guitarras, baterias, instrumentos de sopro, pianos, percussão e os tradicionais violões brilhem de forma monumental, enquanto os vocais em barítono se divertem a cada nova canção.

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O lado mais “roqueiro” do músico fica evidente na ótima America!. A canção de letra irônica chega acompanhada por constantes solos de guitarra embebidos em uma distorção rebuscada, que ao mesmo tempo risca a faixa de maneira acústica como a embeleza. Callahan revela até seu lado “crooner” em Universal Applicant, faixa versátil e que cresce com o formidável arranjo instrumental que potencializa a canção. Inicialmente simplista a canção vai gradativamente agrupando novos elementos e sons distintos, até se fecho envolvente. Os momentos mais minimalistas, talvez pelos vocais ou pela climatização lembram uma espécie de Gil Scott-Heron da música country.

Quando dito que o novo disco ultrapassa as barreiras da música folk tradicional é por petardos como Free’s que isso se comprova. Ao invés de se desmanchar em um bardo solitário, o compositor cerca-se por um clima jazzístico e convidativo. Os acompanhamentos constantes dos pratos, um piano compenetrado que surge como num looping reducionista e esporádicos acordes de guitarra vão funcionando de maneira a circundar os vocais do músico.

Ao término do álbum Bill Callahan nos emociona com mais de oito minutos de acordes melancólicos, um vocal sofrido e um ritmo absorvente. Em One Fine Morning o músico faz uma espécie de soma de grande parte dos elementos que figuraram ao longo do álbum. Minucioso, o musicista acrescenta pequenos elementos que tendem a edificar a faixa e dar um fechamento mais do que merecido ao novo trabalho. Com total cuidado Callahan reserva para Apocalypse apenas a nata de suas composições. Mesmo que as faixas sigam de maneira mais lenta comparada a Sometimes I Wish We Were An Eagle, a sensibilidade e o cuidado com que o musico nos prende é excepcional.

 

Apocalypse (2011)

 

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Smog, Bonnie ‘Prince’ Billy e Wilco
Ouça: Free’s

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.