Disco: “Ashes & Fires”, Ryan Adams

/ Por: Cleber Facchi 04/10/2011

Ryan Adams
Singer-Songwriter/Folk/Alternative
http://www.myspace.com/ryanadams

 

Por: Cleber Facchi

Poucas pessoas correram tanto atrás de sua música em 2010 quanto Ryan Adams. Como se não bastasse ao músico lançar um álbum duplo ao lado de sua “banda de apoio”, o The Cardinals, o músico resolveu experimentar novas tendências musicais ao lançar Orion, um trabalho inteiramente entregue ao Heavy Metal, com Adams deixando os violões de lado e se apoiando por completo em uma tonalidade nunca antes experimentada por ele. O resultado desse excesso de produções – algo que ele já havia experimentado em 2005, quando também lançou três discos – se traduz em uma verdadeira sequência de erros, com o cantor se apoiando e fórmulas redundantes ao lado do Cardinals, e soando vergonhoso ao brincar em carreira solo.

Observando de maneira atenta, desde que lançou Love Is Hell em maio de 2004 que Adams vem se arrastando em uma sequência de trabalhos fracos, pouco o nada inspirados, discos que em nenhum momento conseguem ressaltar a boa fase do artista em princípios dos anos 2000, quando lançou duas das grandes obras musicais da década passada, Heartbraker em 2000 e Gold em 2001. Mesmo que alguns parcos lançamentos como Easy Tiger de 2007 e Jacksonville City Nights de 2005 até consigam agradar, falta ao músico o mesmo fôlego, a mesma inspiração e a mesma dor instrumental e poética de outrora.

Com Ashes & Fires (2011, PAX AM/Capitol Records), décimo quarto álbum da carreira do músico (décimo terceiro se observarmos o último trabalho ao lado do Cardinals como uma obra única) o mesmo não é diferente. A melancolia ainda está lá, as transições entre o folk e a música country também estão, além de certa tonalidade que parece facilitar a relação do cantor com o grande público, entretanto, ainda falta algo ao disco. Tudo soa excessivamente plástico, comum e longe da boa forma de Adams, um projeto demasiado básico e que passa longe de conseguir agradar de fato.

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Tudo bem que observar o disco de maneira a compará-lo com os primeiros lançamentos do norte-americano soa como um grande erro mediante o resultado impecável de tais projetos, entretanto, mesmo de um ponto de vista individual o trabalho soa fraco, e pouco inspirado. Mesmo a tristeza ressaltada ao longo do álbum vem de maneira forçada, como se Adams cantasse não mais sobre ele (o que obviamente refletia no bom desenvolvimento de seus últimos grandes discos), mas sobre outras pessoas, indivíduos que ele não conhece e que de alguma forma tenta se aproximar.

Instrumentalmente o álbum vem reforçado através de duas vertentes musicais, tecnicamente próximas, porém distintas com o desenvolvimento do registro. Em um lado estão faixas reforçadas por uma musicalidade muito mais centradas na música Country, com Adams se aproximando de um trabalho muito mais bucólico e melhor delineado, resultando assim em algumas das boas canções do disco. Do outro lado estão composições tomadas por uma sonoridade mais “piano bar”, com o músico e suas criações se evidenciando de maneira básica e até penosa em alguns momentos, o que contribui para a fraca execução do disco.

Mesmo tomado por uma funcionalidade convencional (e até cansativa em alguns momentos), certas faixas ao longo do disco acabam salvando o trabalho. Músicas como Do I Wait, Kindness (que traz o backing vocal de Norah Jones e Mandy Moore) e Lucky Now não apenas evidenciam um bom resultado, como aproximam Adams de sua boa fase, sendo provavelmente as composições que mais devem agradar os antigos seguidores do músico. Talvez seja hora de Ryan Adams levar um novo pé na bunda e nos presentear com seus velhos e sofridos versos.

 

Ashes & Fires (2011, PAX AM/Capitol Records)

 

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Cardinals, Wiskeytown e My Morning Jacket
Ouça: Do I Wait

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.