Disco: “Bermuda Drain”, Prurient

/ Por: Cleber Facchi 27/07/2011

Prurient
Experimental/Noise/Dark Ambient
http://www.myspace.com/cocainedeath

 

Por: Cleber Facchi

 

Se você observar o trabalho de Ian Dominick Fernow ao longo destes últimos dez anos verá que o norte-americano descansou pouco, muito pouco. Entre lançamentos caseiros, registros via gravadoras, fitas cassetes, LPs, singles virtuais, álbuns compartilhados, coletâneas e EPs o músico contabiliza perto de 50 trabalhos lançados, todos sob o nome de Prurient, sua banda-de-um-homem-só. Sempre dentro de um universo sujo, claustrofóbico e carregado de sonorizações rebuscadas, Fernow traz agora aquele que parece ser seu melhor registro, Bermuda Drain (2011, Hydra Head), um álbum que dilui de maneira perspicaz toda a acidez da excêntrica obra do músico.

Paralelo ao seu trabalho através do Prurient, o que já lhe garantiria horas de produções intermináveis,  Fernow e seu parceiro Wesley Eisold vêm desenvolvendo uma brilhante carreira com o Cold Cave, banda nova-iorquina que mantém seus esforços em cima de uma sonoridade voltada ao Synthpop e ao Drakwave. Com dois álbuns lançados – Love Comes Close (2009) e Cherish The Light Years (2011) – torna-se visível o quanto a parceria tem influenciado a carreira solo de  Fernow, algo bastante perceptível em seu novo álbum e um dos prováveis motivos pelo belo resultado alcançado pelo músico.

Enquanto os anteriores trabalhos do músico se mantinham centrados em uma experimentação deveras enfadonha ou limitada em sua sonoridade, em Bermuda Drain todos as amarras que tornavam o som do norte-americano preso foram arrancadas. O resultado dessa maior liberdade criativa se traduz em composições que passeiam por uma gama ilimitada de possibilidades instrumentais, com Fernow passeando por experimentações voltadas ao noise, drone, industrial, música ambiente, além de algumas claras predisposições ao que é desenvolvido através de seu projeto paralelo com Eisold.

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Diferente de anteriores trabalhos do Prurient, com o atual registro é possível dizer que um resultado mais “pop” foi alcançado. Embora os vocais gritados expressem o contrário, em There Are Still Secrets a sonoridade estabelecida se mantém o tempo toda dentro dos limites do acessível, lembrando muito o que é construído através do Cold Cave, uma composições dançante, carregada de sintetizadores e uma batida descontraída. O mesmo se revela em outras composições, como A Meal Can Be Made, faixa que de alguma forma lembra o que os canadenses do Crystal Castles desenvolvem, algo dividido entre a dança e a esquizofrenia.

Contudo, os momentos mais acessíveis do disco não impedem que Fernow nos aproxime de suas já tradicionais experimentações, sempre sujas, carregadas de distorções e sons caóticos, algo já bem esclarecido logo na faixa de abertura, Many Jewels Surround The Crown, música que abre em meio a gritos e uma construção ambiental suja. Além destes picos de agressividade, o músico traz algumas novidades ao álbum, como composições que passeiam por uma sonoridade mais branda e inteiramente instrumental, músicas como Myth Of Sex, que se mantém dentro de um aspecto completamente moderado, um oposto do que predomina ao longo do disco.

Assim como em seus anteriores projetos, entre composições adornadas por seus gritos e experimentações claustrofóbicas, Fernow abre espaço para declamar seus versos. Independente de serem ambientações pacatas ou colossais, o músico despeja trechos carregados de pessimismo e doses imoderadas de nonsense de forma bastante intimista, como se dialogasse diretamente ao ouvinte, como na faixa Let’s Make A Slave, em que a excessiva proximidade da voz do cantor causa desconforto e irritação, o que obviamente é uma das prerrogativas do Prurient.

 

Bermuda Drain (2011, Hydra Head)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Cold Cave, Whitehouse e Crystal Castles
Ouça: A Meal Can Be Made

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.