Disco: “Born To Die”, Lana Del Rey

/ Por: Cleber Facchi 28/01/2012

Lana Del Rey
Pop/Female Vocalists/Alternative
http://www.lanadelrey.com/

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Por: Cleber Facchi

Há tempos a indústria da música não fabricava um ícone de maneira tão descarada e, consequentemente, falha quanto Lan Del Rey. Do rostinho sem expressão aos vocais protegidos por doses imoderadas de Auto-Tune, tudo no trabalho da norte-americana ecoa de maneira falaciosa e vergonhosamente irreal. Até o nome da cantora – um misto de atriz Lana Turner e do clássico Ford sedan Del Rey – não é verdadeiro. Entretanto, talvez por enquanto fosse difícil perceber a estrutura estabelecida ao redor de Lana, que através dos singles Video Games e Blue Jeans cresceu ampla e misteriosamente ao longo de todo o ano de 2011, apenas nos preparando para a chegada do aguardado Born To Die, “primeiro” trabalho da jovem e disco em que finalmente somos apresentados de maneira nada discreta à farsa dela – e de quem mais estiver em seu entorno.

Não há qualquer problema na maneira como a artista é matematicamente construída, afinal, ao longo de décadas de produção musical não são poucos os artistas de sucesso que cresceram por conta disso. Os próprios Beatles tiveram os primeiros discos intensamente controlados pela gravadora, isso sem mencionar no cardápio de vozes femininas – indo de Madonna à Britney Spears – que quase diariamente se revelam protegidas por incontáveis recursos, sejam eles musicais ou financeiros. Lana, porém, parece estar exageradamente acima disso. Um rostinho bonito pré-fabricado que vem contando com o apoio ativo de sua gravadora, ou você vai dizer que em 2010 parou para ouvir o primeiro álbum da cantora, um registro tão banal que foi sumariamente descartado.

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O problema de Del Rey, entretanto, está além das artificialidades que a cercam, mas sim no vasto número de caminhos que a artista tenta percorrer ao longo do disco. Nem Lana, nem os executivos que a cercam parecem saber para onde a cantora vai. Ao longo do registro é possível observar uma boneca fragmentada em diversas personagens, ora soando uma cópia intragável de Beyoncé (Born To Die e Diet Mtn Dew), ora parecendo uma Robyn menos criativa (Off to the Races) ou ainda sugando o pop orquestral de Florence Welch (Summertime Sadness). Nada no interior do disco pertence a ela, tudo é arquitetado de maneira que apenas a voz (robótica) de Lana é acrescentada no desenrolar da faixa, tornando o álbum um projeto desnorteado.

A forma arrastada e pouco inventiva do disco vai lentamente tornando o álbum um registro sonolento e cansativo, sendo que passados os vislumbres mais “enérgicos” do disco (ao final da faixa National Anthem), o trabalho parece simplesmente morrer, revelando uma sessão de músicas comprometedoramente próximas e irrelevantes. Talvez até exista uma Lana Del Rey ao fundo deste álbum, entretanto, os artifícios que a envolvem são tantos que é simplesmente impossível perceber qualquer fundo de realidade. Del Rey não apenas nasceu, como está pronta para morrer desde já.

Nota: 5.0
Ouça: Video Games

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Por: Gabriel Picanço

Bastou o video do primeiro single, Video Games, ser postado no youtube e ganhar espaço em praticamente todos os blogs para Lana del Ray conquistar milhares de lovers e haters em tempo recorde. Assim surgiu mais uma diva da música pop dos anos 2010, na internet. Além da qualidade e originalidade da música, o video com a garotinha linda que canta fazendo biquinho chama a atenção por misturar elementos que aparentemente não combinam: Cinema clássico, Elvis Presley, country music, skate, beatnik, grunge, hip hop e maconha. Mais milhares de referências nas letras e nos videos que vieram a seguir.

Também surgiram diversos assuntos que iam além da sua produção: há quem diga que Lana não é “de verdade”, e sim uma invenção de produtores musicais gordos e feios bancada pelo pai milionário. Ainda não ficou claro se a teoria conspiratória é verdade ou se tal polêmica é somente mais um exemplo da dificuldade em atribuir talento a uma pessoa bonita. De qualquer maneira, a sua estréia (que não é bem estréia, já que um álbum foi lançado em 2010 quando ela ainda usava o nome de batismo, Lizzy Grant) virou unanimidade como o disco mais aguardado de 2012.

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Born to Die com certeza vai potencializar o fenômeno Lana Del Ray com faixas que carregam muita personalidade e elementos que já viraram marcas da artista, como as batidas de hip-hop combinadas com arranjos de cordas e samples vocais ao fundo. Apesar da repetição desses ingredientes e das temáticas das letras, o disco é correto do inicio ao fim, sem entediar. Born to die prova que Lana tem facilidade para fazer música, tanto que, literalmente, sobram faixa boas. Without You e principalmente a ótima Lokita “ficaram de fora” da tracklist oficial, sendo lançadas somente como bônus.

A voz arrastada, extremamente sexy e agradável, principalmente nas faixas mais lentas e enfumaçadas como Video Games, Carmem e na balada jazzística Million Dollar Man é a principal qualidade não-visual da moça e compensa as letras fracas que escreve. Dark Paradise e Diet Mtn Dew, mais radiofônicas e prováveis hits, são músicas que se diferenciam de canções de artistas como Britney Spears somente pelo tipo de produção. Mas, como já é possível atestar pela grande quantidade de remixes das músicas já lançadas, as faixas de Born To Die não se esgotam nela mesmas, são moldadas com facilidade e certamente vão tocar em todos os tipos de pista em 2012.

Nota: 8.0
Ouça: Blue Jeans

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Por: Juliana Pinto

Um dos discos mais aguardados para a primeira metade de 2012, quem sabe até mesmo do ano inteiro, Born To Die já criava expectativas antes mesmo de ter nome definido ou data de lançamento marcada. Tudo isso por causa do barulho que a nova-iorquina Elizabeth Grant (Lana Del Rey) fez com o single Video Games e o dramático vídeo da faixa que nomeou seu primeiro registro produzido por uma grande gravadora. Fazer parte do hall dos grandes artistas pop num cenário complicado como o atual requer alguns sacrifícios e, principalmente, muita publicidade. O carisma e a beleza da cantora de voz marcante certamente foram ingredientes necessários para que Lana estourasse no mundo virtual e viesse assim a se tornar a musa do hype em 2012, título esse que veio de maneira prematura. Agora que temos em mãos o tão esperado álbum, isso só fica mais evidente.

Born To Die tem como missão principal soar urgente e teatral, e embora ele cumpra essa promessa inicial nas faixas que foram previamente lançadas (Video Games e Blue Jeans, além da faixa título), quando esses elementos são misturados em um contexto, o disco parece cansativo. São 12 faixas (15 na edição de especial) que exigem muito do ouvinte e que por isso, podem desviar sua atenção ou até mesmo te fazer perder o interesse no conteúdo do álbum.

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As letras incrivelmente dramáticas são outro ponto que talvez não agrade os mais exigentes, são rasas e, em alguns momentos, semelhantes. Melancolia acaba se tornando o tema principal do disco que oscila entre o amor e as dores que o acompanham.

Claro que o glamour ao redor da cantora continua presente, a maioria das canções mantém um ar grandioso e alguns momentos chegam a soar apoteóticos, mas Born To Die ainda não parece ser o trabalho distinto e complexo que Del Rey prometeu com a prévia que nós tivemos do disco. As faixas funcionam muito bem como single, mas quando colocadas em uma ordem, podem soar desconexas e vagas. Del Rey conseguiu se tornar uma hitmaker, ainda que esteja só começando a mostrar sua personalidade musical, que não parece definida.

Mesmo que Born To Die não tenha sido um surpreendente registro do pop, Del Rey conseguiu se impor dentro do cenário com melodias orquestradas, uma produção digna de estrela e uma grande estratégia de marketing. Nada como soar um pouco diferente quando todo o resto parece ser igual.

Nota: 6.0
Ouça: Blue Jeans

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Born To Die (2012, Interscope/Stranger)

Média: 6.3
Para quem gosta de: Florence + the Machine, Robyn e Nicola Roberts

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.