You Can’t Win, Charlie Brown
Portuguese/Indie Pop/Experimental
http://www.myspace.com/youcantwincharlieb
Por: Cleber Facchi
Imagine um grande cruzamento entre as melodias suavizadas do Fleet Foxes e as doses de experimentações lisérgicas de bandas como Yeasayer ou Animal Collective. Imaginou? Pois estas parecem ser exatamente as referências, ou pelo menos algo muito próximo do que podemos encontrar em Chromatic (2011, Pataca Discos), primeiro registro em estúdio da banda portuguesa You Can’t Win, Charlie Brown. Vindo diretamente da capital Lisboa, o grupo tem chamado a atenção de uma série de revistas e sites especializados, algo bastante justificável mediante o doce conjunto de composições apresentadas pela banda em sua delicada e entusiasmada estreia.
Tudo começa através da sofisticação vocal de Over The Sun / Under The Water, faixa que à princípio soa como alguma criação da dupla Simon & Garfunkel, mas que logo acaba lembrando como algum fruto dos nova-iorquinos do Animal Collective mediante o acréscimo de sintetizadores climáticos. Ainda se torna possível uma aproximação com o The Flaming Lips do disco The Soft Bulletin ou mesmo o Grizzly Bear do álbum Veckatimest, por conta da maneira como as harmonias de voz e os instrumentos são posicionados, gerando um verdadeiro caleidoscópio de doces referências que arremessam o grupo para próximo de distintos artistas.
Se dividindo constantemente entre um som sintético e bucólico, o grupo – Afonso Cabral, Salvador Menezes, Luís Costa, David Santos, Tomás Sousa e João Gil – para além de soar próximo de uma série de grandes nomes da música alternativa atual, lentamente começa a esculpir seus limites, suas regras e aquilo que pode ser compreendido como um som genuinamente seu. Dessa busca por uma musicalidade original pintam 12 composições, faixas idílicas, açucaradas, mas não em excesso, sempre trazendo um fio de melancolia.
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Em grande parte das vezes, as composições começam pequenas, até lentamente explodirem em um grande mosaico de cores e sons mágicos, resultando em uma sonoridade quase pueril e adocicada. A While Can Be A Long Time consegue delinear isso com perfeição, abrindo em meio ao uso de vocais suaves e uma instrumentação quase transparente, essencialmente delicada e que parece pronta para se partir. No decorrer da faixa novos acréscimos vão solidificando suas estruturas, sem que a banda jamais abandone suas conduções abrandadas ou sua musicalidade policromática.
Mesmo quando buscam pela produção de um som mais simplista, como na faixa Songworm há sempre o encaixe de algum elemento que denote profunda suavidade na música do grupo – neste caso, o cavaquinho de Fernando Cabral. Até nos momentos mais dolorosos e obscuros do disco – algo pouco presente, mas possível de ser encontrado –, o que fica bem representado no fechamento do disco com An Ending, a mínima presença de xilofones etéreos já reconfigura todos os rumos da composição, transformando a audição de cada faixa uma experiência única, doce e surpreendentemente bela.
Embora dono de uma fluência agradável do princípio ao fim do registro, Chromatic, talvez por sua constante similaridade com uma série de outros álbuns não consegue se manifestar como um registro suficientemente impactante ou revolucionário, o que de forma alguma prejudica sua condução. Detalhista ao extremo, e dono de letras esculpidas com primazia, o disco vai lentamente se derretendo nos ouvidos, gerando uma sensação confortável, como se o álbum ou mesmo a própria banda já fossem velhos conhecidos, algo em que eles obviamente se converterão a partir de agora.
Chromatic (2011, Pataca Discos)
Nota: 8.0
Para quem gosta de: Freelance Whales, Fleet Foxes e The Decemberists
Ouça: Over The Sun / Under The Water
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.