Gunnar Vargas
Brazilian/Samba/Jazz
http://www.myspace.com/gunnarvargas
Por: Cleber Facchi
Só reclama da atual safra da música popular brasileira aquele que ainda não se aventurou pelos sons que tem brotado em território nacional na última década. Seja através de registros que reinterpretam as mesmas temáticas lançadas nas décadas de 60 e 70 ou pela produção de trabalhos experimentais, que cruzam temáticas e gêneros distintos, o que não falta são artistas que corrompam a lógica tradicional daquilo que por anos delimitou os padrões da MPB. Casando sons do passado com o presente, o paulistano Gunnar Vargas faz de sua estreia um álbum que abre as portas para o samba e o jazz, propondo fórmulas e melodias que agradam desde ouvintes veteranos até aos novatos na nossa música.
Se determinados discos parecem se transportar para décadas específicas, em Circo Incandescente (2011, Independente) não é o álbum que se transporta ao passado, mas sim o ouvinte e todo o universo ao seu redor que tem seu fluxo temporal quebrado. Sai de cena o panorama futurístico dos anos 2000 e entra uma ambientação que vai da década de 1940 até princípios dos anos 60. Pessoas em trajes de época, ambientes boêmios e a boa música de Vargas que ecoa pelos quatro cantos, como se viesse para colorir a paisagem que ali se forma.
Com o cenário instalado, agora o músico usa de seus versos e de sua voz – dividida entre um Chico Buarque menos nasalado e um Wilson Simonal mais pacato – para contar pequenas histórias, crônicas de uma São Paulo dos anos 40 (ou seria um Rio de Janeiro?), em que casos de amor, pequenos fatos tragicômicos e acontecimentos corriqueiros se adornam da boa música exaltada ao longo do álbum para que se possam manifestar. Dividido entre uma ambientação suave e levemente suingada, Gunnar nos conduz cada vez mais para dentro de seu trabalho, tornando difícil a fuga do doce cenário ali estabelecido.
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Se múltiplos são os personagens apresentado ao longo do disco – como o protagonista letárgico em Samba no Xadrez (“São onze horas, safado/ E você aí deitado/ Quem passa a noite mamado/ Pede que chegue a vez/ de acordar enjaulado/ Vai ter que sambar no xadrez”) ou o cobrador da água Assim Não Assumção (Eu estava tão tranquilo ao do violão/ Quando desce lá em casa um tal de Assumção/ Me trazendo duas contas, uma em cada mão”) -, vários também são os acontecimentos que tomam o cotidiano do principal personagem ao longo do disco (talvez o próprio Gunnar), como a falta de dinheiro em Osso Duro, a saudade em Chove ou o término de relacionamento em Vai em Paz.
Embora seja construído em cima de sambas e alguns vagos temperos de jazz, em Circo Incandescente até algumas mesclas de tango se fazem presentes, pendência que se revela logo no começo do álbum através da bela Vestido Preto. Independente dos sons que venha a elaborar é no bem apurado corpo de instrumentistas, todos orquestrados pelo produtor Luiz Waack (que já trabalhou ao lado de artistas como Marisa Monte, Luiz Melodia, Ney Matogrosso), que o álbum acaba se edificando.
O final suave das melodias de piano que delimitam toda a faixa O Encontro de Antigos Amantes lentamente vão transportando o ouvinte de volta à sua realidade, dizendo (infelizmente) adeus ao apanhado de sons e sensações que o disco carrega em cada mínimo acorde ou brando vocal. Distante de nomes que delimitam a atual música brasileira – entre eles Marcelo Jeneci, Céu e Tulipa Ruiz -, Gunnar Vargas segue por sua própria trilha e não parece se importar em manter certa distância do pequeno panteão que se formou nos últimos anos, talvez por isso sua música chegue aos ouvidos de forma tão agradável e distinta.
Circo Incandescente (2011, Independente)
Nota: 7.8
Para quem gosta de: Chico Buarque, Anelis Assumpção e Orquestra Imperial
Ouça: Osso Duro
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.