Disco: “Clear Moon”, Mount Eerie

/ Por: Cleber Facchi 15/05/2012

Mount Eerie
Indie/Lo-Fi/Experimental
http://www.pwelverumandsun.com/

Por: Fernanda Blammer

Com o lançamento de Glow, Pt. 2, em setembro de 2001 o músico norte-americano Phil Elverum poderia simplesmente ter desligado a caixa de som, posto o violão de lado e se conduzido para o descanso. Recheado por 20 composições e mais de uma hora de duração, o álbum funciona como um mergulho suave nas angústias e melancolias particulares do compositor, que ocupa todos os espaços do registro como uma espécie de biografia musical. Apresentando criações sempre densas e dolorosamente sinceras, o artista fornece as bases líricas necessárias para que uma instrumentação caseira e repleta de ruídos empoeirados que se derretem ao longo do disco.

A força do trabalho foi tanta, que mesmo o próprio Elverum não conseguiu dar continuidade ao suntuoso projeto, desintegrando o The Microphones logo no ano seguinte e só voltando a se apresentar sob um novo formato e título. Nascia ali o Mount Eerie. Se os nomes foram trocados, a sonoridade pelo menos se manteve a mesma, algo que o homônimo disco apresentado em 2003 delimitou com um clima acústico e sempre denso, uma linguagem totalmente próxima daquela testada previamente pelo compositor e de certa forma aprimorada pelo mesmo, que tratou de incorporar novos instrumentos, compartilhar músicas com novos parceiros e conduzir o público a um novo e ainda mais doloroso universo.

Com a chegada de Clear Moon (2012, P.W. Elverum & Sun), Elverum mais uma vez reforça todos esses sentimentos, passeando por um trabalho complexo, inteiramente melancólico e tão sincero quanto a elogiada obra lançada há mais de uma década. Entre versos metafóricos – que parecem passear pelas desilusões particulares do músico – e canções estritamente confessionais, o norte-americano assume o que parece ser uma sufocante extensão do disco Wind’s Poem de 2009, quando a simplicidade deu lugar à beleza das formas instrumentais, guitarras levemente orquestradas e a voz abrangente, trabalhada quase como um peculiar instrumento musical.

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O clima denso e a proposta quase ambiental se estende por praticamente todas as 11 faixas do novo álbum, que cada vez mais distante do fluxo acústico dos projetos anteriores desemboca em um oceano de guitarras e ruídos elétricos, resultado talvez impossível de ser previsto há alguns anos. A produção enevoada garante que o músico produza um trabalho fechado, distinto mesmo dentro da ampla discografia que vem desenvolvendo desde meados da década de 1990, ainda à frente do The Microphones. A necessidade em produzir um som recluso estranhamente expande os horizontes e antigos limites do Mount Eerie, que agora parece aceitar as experimentações como elementos essenciais para uma nova condução da obra de Elverum.

Música síntese de todo o registro, a faixa título demonstra em quase oito minutos de duração toda a beleza e evolução que toma conta do novo disco e da própria carreira do músico, agora próximo do trabalho alicerçado por gente como Julian Lynch e até Bill Callahan nos momentos mais herméticos. Pontuado por pequenos interlúdios, Clear Moon se orienta como um álbum em que todas as faixas parecem intencionalmente próximas, estratégia adotada há pouco tempo pelo compositor, que cada vez mais se afasta do enquadramento Lo-Fi para conquistar uma sonoridade ambiciosa e naturalmente melhor produzida.

Amargo em toda a extensão, o trabalho mais uma vez evidencia o brilhantismo do artista de Olympia, Washington como um dos grandes compositores dessa e da antiga geração – percepção por vezes descartada por boa parte do público e da crítica. A abrangência e renovações que se apoderam do registro evitam que o projeto caia em repetições, garantindo mais um surpreendente exemplar para a sorumbática e incomparável coleção de obras montadas pelo músico. Phil Elverum parece ter todas as respostas para as mais dolorosas situações, basta apenas que as pessoas descubram isso.

Clear Moon (2012, P.W. Elverum & Sun)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Microphones, Smog e Cass McCombs
Ouça: Lone Bell e Clear Moon

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.