Disco: “Deep Fantasy”, White Lung

/ Por: Cleber Facchi 18/06/2014

White Lung
Punk Rock/Garage Rock/Indie
https://www.facebook.com/whitelung

Por: Cleber Facchi

Deep Fantasy é uma porrada. Mesmo. Em uma ascendente estrutura agressiva que parece aprimorada disco, após disco, o White Lung alcança o terceiro registro da carreira esbanjando boa forma, acordes sujos e, claro, a voz (sempre) perturbada de Mish Way. Obra mais coesa desde a estreia da banda canadense com It’s the Evil (2010), o trabalho de míseros 22 minutos usa da colisão dos arranjos como um mecanismo de acerto para o grupo, capaz de falar/cantar sobre sentimentos complexos de forma simples e sempre intensa.

Na trilha melódica do que o segundo disco, Sorry, apresentou em 2012, o presente registro inverte a formatação crua dos primeiros inventos da banda para reforçar coerência e certa dos de complexidade em estúdio. Ainda que o alinhamento “Punk” seja a base para cada uma das 11 canções que recheiam o álbum, da abertura com Drown With the Monster, ao fechamento, Deep Fantasy é uma obra que se abastece de detalhes e referências pouco convencionais para bandas do gênero.

Lembrando uma versão bem acabada de Say Yes To Love (2014), mais recente disco dos “vizinhos” do Perfect Pussy, o terceiro álbum do quarteto de Vancouver – Mish Way, Kenneth William, Anne-Marie Vassiliou e Hether Fortune – é um passo além em relação ao que outros trabalhos da atual cena Punk tendem a projetar. Basta perceber como os solos de guitarra em Face Down e Wrong Star assumem um caráter “encorpado”, raro em obras de mesmo estilo. Ainda que a passagem para um selo maior – Domino Records – pareça ser a resposta para essa “transformação”, é visível em toda a estrutura do disco a busca do grupo por um resultado minimamente distinto.

Mesmo os versos que preenchem o trabalho partilham de um conceito próprio, típico da banda. Enquanto o niilismo toma conta de grupos britânicos como Iceage, e o descompromisso assume forma no trabalho de artistas estadunidenses feito Parquet Courts e Ought, a banda canadense usa dos versos para promover uma obra marcada pela sensibilidade. “Se eu engordar um dia, você vai fugir? / Eu vou morrer de fome se você prometer que vai me salvar?“, questiona a vocalista em Snake Jaw, música que interpreta temas como beleza e amor de forma isolada. De fato, a feminilidade e o conjunto de confissões lançadas por Mish Way parecem garantir toda a base do registro, explicando, em partes, a complexidade que estimula os arranjos.

Longe de parecer uma obra isolada – lírica ou musicalmente -, Deep Fantasy, assim como It’s the Evil (2010) e Sorry (2012), usa do enclausuramento poético da vocalista/compositora para alcançar o ouvinte. Dos pesadelos de um pré-adolescente (Just For You), aos transtornos de um jovem adulto (Down It Goes), o terceiro álbum do White Lung é uma obra que atinge todas as direções. Dor, angústia e melancolia preenchem o álbum, que assume na própria aceleração um mecanismo de assertivo contraste em relação aos versos.

Ponto alto de um ano abastecido por obras similares – além dos registros acima citados, Here and Nowhere Else do Cloud Nothings e a estreia do Eagulls completam o rico catálogo -, Deep Fantasy reforça o acerto do White Lung ao escapar da relação natural com o passado. Ainda que determinadas faixas do disco abracem a década 1990 (Wrong Star), além de passagens óbvias pelo Pós-Punk no final dos anos 1970 (Sychophant), parte expressiva da obra mantém a comunicação com o presente, reforçando a originalidade do registro, bem como a da própria banda.

 

Deep Fantasy (2014)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Perfect Pussy, Iceage e Male Bonding
Ouça: Face Down, Just For You e Wrong Star

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.