Disco: “Disco”, Arnaldo Antunes

/ Por: Cleber Facchi 18/11/2013

Arnaldo Antunes
Brazilian/Rock/Alternative
http://www.arnaldoantunes.com.br/

Por: Cleber Facchi

Arnaldo Antunes

Não existe território dentro da música nacional que já não foi explorado na obra de Arnaldo Antunes. Dos experimentos poéticos que alimentaram o princípio da fase solo, passando pelo pop, o rock, a música infantil (do Pequeno Cidadão), até os detalhamentos nostálgicos que marcaram Qualquer (2006) e Iê Iê Iê (2009), por onde passa, o músico paulistano parece encontrar um espaço isolado para a expansão da própria estética. É dentro desse jogo de experiências particulares que nasce o recente Disco (2013, Rosa Celeste), uma espécie de resumo das interferências que há duas décadas cortaram a carreira do compositor.

Em uma primeira audição, o décimo álbum de estúdio de Antunes talvez ecoe de forma tímida em relação aos anteriores inventos do músico. A serenidade vocal, os instrumentos alinhados de forma pacata em músicas como Dizem (Quem Dera), bem como a lírica hipnótica de todo o disco parecem acomodados em uma atmosfera própria de conforto. É como se o Lado B dos trabalhos assinados na década de 1990 fosse expandido de forma singular. Entretanto, basta dar tempo ao registro, e ao fluxo ascendente imposto em músicas como Trato e Vá Trabalhar, para perceber qual a real proposta do cantor com o novo exemplar.

Íntimo de todo o conjunto de ideias expostas em Iê Iê Iê, efeito reforçado na presença de Fernando Catatau, Edgard Scandurra e Marcelo Jeneci, o presente disco é mais um regresso de Antunes ao rock das décadas de 1960/1970 – algo explícito na formatação melódica dos versos e no catálogo de acordes plásticos dissolvidos por toda a obra. Entretanto, enquanto o disco de 2009 parecia olhar com atenção para o passado, com o novo álbum Antunes firma os dois pés no presente, o que garante ao trabalho um toque “moderno”. Assim, tanto a crueza de Ah, mas assim vai ser difícil como o clima tropical de Ela É Tarja Preta (parceria com Felipe Cordeiro) se aproximam de todas as imposições recentes do pop-rock nacional, garantindo vigor e jovialidade ao trabalho do músico.

A métrica simples, incorporada a todo o instante pelos músicos convidados, se relaciona de forma assertiva com a estética “branca” que marca a obra. Disco é uma obra que segue em um estágio regular até a última música, como se todas as canções fossem trabalhadas em um mesmo fluxo conceitual, homogêneo em essência. A medida parece aproximar tanto a calmaria de Acalanto pra acordar, canção de encerramento do álbum, da furtividade em Muito Muito Pouco, no eixo inicial da obra. Um recurso muito similar ao detalhamento explorado em Saiba (2004) e Qualquer, porém, em um fluxo naturalmente intenso, capaz de forçar os vocais de Antunes durante toda a composição do registro.

O tratamento linear proposto ao disco de forma alguma impede que o músico assuma pequenas curvas e pontos de maior distinção durante o percurso. Exemplo mais expressivo disso está no toque funkeado de Trato, parceria entre Antunes e a cantora Céu, e faixa que mergulha de cabeça na musica nacional dos anos 1970. A própria Azul Vazio, com seus arranjos de cordas e timidez ocasional se manifesta como outro exemplo desse afastamento. Bucólica, a canção funciona de maneira necessária para a obra, servindo como um respiro para o que o eixo final do disco sustenta em mais uma soma de riffs e vozes rápidas.

Curioso perceber o quanto uma obra tão plural (em se tratando dos colaboradores) seja capaz de assumir um resultado tão próximo quando observado em totalidade. Além dos nomes acima mencionados, parte fundamental da construção de Disco vem da interferência lírica e instrumental de Daniel Jobim, Curumin, Marisa Monte e Anelis Assumpção. Uma seleção precisa de convidados que ampliam o teor de grandeza em torno da obra e reforçam a todo o instante o sentido de “coletânea” que tanto parece caracterizar (e salva) a composição final do álbum. Como já afirmou em entrevista, Arnaldo Antunes só iria lançar um novo registro em estúdio no próximo ano. Ainda bem que ele resolveu fugir dessa opção.

 

Arnaldo Antunes

Disco (2013, Rosa Celeste)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Otto, Karina Buhr e Siba
Ouça: Ah, mas assim vai ser difícil, Trato e Morro, Amor

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.