Brian Eno & Rick Hollan
Ambient/Experimental/Poetry
http://www.myspace.com/ambientlegend
http://www.rjholland.com/
Por: Cleber Facchi
Everything That Happens Will Happen Today, parceria entre Brian Eno e David Byrne lançada em 2008 que não apenas trazia de volta um dos encontros mais importantes da história do rock nos anos 70/80, como apresentava uma dupla de indivíduos inspirados, músicos que há tempos não pareciam tão entusiasmados quanto em seus respectivos ápices, o primeiro através do Roxy Music e o segundo com o Talking Heads. Drums Between The Bells, álbum que une o poeta inglês Rick Holland com Eno, um encontro que teve início na década de 90, mas que só agora consegue se concretizar, porém, diferente da anterior parceria entre Eno e Byrne, um álbum que não se mantém inspirado e muito menos entusiasmado ao longo de seu desenvolvimento.
Enquanto no registro lançado ao lado do eterno Talking Head, Eno se portava como um moleque, destilando composições que não somente retratavam suas aventuras pelos campos da música ambiente como se adornavam pela mistura carregada de ginga e fluidez, com o recente trabalho o produtor aponta de forma bastante perceptível o peso que a idade trouxe à sua obra. Demasiado cerebral e se desenvolvendo de forma arrastada, o álbum (e a parceria) acabam se revelando como um dos trabalhos mais fracos e talvez desnecessários do ano.
Dividido em dois álbuns – um contando apenas com composições instrumentais elaboradas por Eno e o outro trazendo os versos de Holland, sempre acompanhados de uma base instrumental -, a parceria peca inicialmente por seus excessos. O conjunto de 31 faixas que se formam do encontro entre os dois álbuns demonstram um completo descontrole, como se tanto o músico quanto o poeta não estivessem se importando com a qualidade do aglomerado de canções, apenas interessados em entregar mais e mais faixas (ou poemas) independente do que quer que seja produzido, entregando a mais latente falha do registro.
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Por mais que no álbum dedicado exclusivamente às sonorizações de Eno seja possível encontrar algumas composições de qualidade, como Spaced, que de alguma forma remete ao disco de 2008, ou talvez Itch, por sua condução dinâmica, em sua totalidade o disco acaba se revelando como uma vampirização da própria obra de Eno. Nada ali parece soar de forma genuína, bem elaborada ou verdadeiramente criativa, até parece que o músico resolveu salvar algumas de suas composições descartadas em trabalhos anteriores. É até provável que uma busca minuciosa revele faixas idênticas a qualquer outra coisa que o artista tenha desenvolvido anteriormente.
Se no álbum instrumental o resultado não se apresenta de forma nada agradável, quando os versos de Holland começam a ecoar através do segundo disco a constatação é a de que algo ainda pior passa a se manifestar. Mesmo ao convidar uma série de vozes femininas para dar vida aos poemas – Grazyna Goworek, Caroline Wildi, Laura Spagnuolo, Elisha Mudly Aylie Cooke, Nick Robertson, e Anastasia Afonina – o resultado continua sendo o mesmo. Já Eno ruma para uma série de novas repetições, dessa vez não reaproveitando sua própria obra, como chegando bem próximo de imitar o grupo Kraftwerk em alguns momentos.
A impressão que se tem ao concluir a audição do disco – qualquer um que consiga isso já pode se considerar como um verdadeiro vitorioso – é a de que a dupla não produziu um álbum para o público, mas sim um trabalho feito para eles mesmos, um verdadeiro registro de masturbação mental e redundante que além de não agradar consegue constranger. Na teoria Drums Between The Bells pode até parecer uma ideia audaciosa (não revolucionária, afinal, não são poucos os que já experimentaram tal temática, Arnaldo Antunes e seus primeiros discos estão aí para comprovar), porém na prática isso já é outra história.
Drums Between The Bells (2011, Warp)
Nota: 4.5
Para quem gosta de: Brian Eno, Rick Hollan e ficar entediado
Ouça: Glitch
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.