Disco: “Faded Days”, Vocabulary

/ Por: Cleber Facchi 06/02/2011

Vocabulary
Experimental/Lo-Fi/Ambient
http://vocabulary.bandcamp.com/


É preciso ir devagar com o primeiro álbum do Vocabulary, a não ser é claro, que você queira ser tragado para dentro da sonoridade meticulosamente excêntrica da banda, ser absorvido através de suas viagens cuidadosas de reverberações lo-fi e nunca mais voltar. Faded Days (2011) surge como um vertiginoso disco marcado pela excentricidade de suas composições e pelos toques de experimentalismo pop.

Sim, o álbum parece incontestavelmente com alguma coisa feita pelo Deerhunter, ainda mais se comparado com Halcyon Digest (2010), o último lançamento da banda de Atlanta. A sonoridade abafada por espessas camadas de guitarras, distorções cacofônicas e os vocais carregados de eco guiam o ouvinte por um caminho obscuro e melancólico crescente. Há também certa semelhança com o trabalho de estreia do Dirty Beaches, o excelente Badlands (2011), talvez por alguns toques de surf rock que vão se consolidando lentamente no desenrolar do disco, além é claro das inúmeras frequências ruidosas que vão corroendo as músicas dentro do álbum.

Nas instrumentais Collision e Agnes Lister (que mais parece alguma coisa saída do Avey Tare) o explorar de sons naturais, instrumentos acústicos e recortes sonoros sobrepostos vão construindo as bases das canções. As faixas fogem do ritmo, se alteram frequentemente e transitam por um rumo muito mais etéreo em seu resultado. Tais faixas parecem mais como uma brincadeira sinistra de seus compositores.

Contudo a estranheza do disco não está apenas em sua instrumentação. As letras nonsenses de boa parte das composições ajudam a intensificar o clima curioso que marca presença no trabalho. Em Spider Crawl, por exemplo, a letra trata sobre niilismo, aranhas rastreadoras, sobre crescer, a morte e fantasmas em um curtíssimo período de tempo. O mesmo vale para outras faixas como Oskar e Rearrange Shelves, também com suas letras bizarras e “incoerentes”.

Mas é quando caí no completo experimentalismo que surgem os melhores momentos do álbum. A primeira é Gown, uma canção (se é que podemos chamar essa pérola do esquisito de canção) marcada por sintetizadores fúnebres e uma melodia inconstante, que vai se retorcendo a cada novo acorde, numa propriedade quase Drone. A segunda é Children, de longe a faixa mais distinta de todo o Faded Days. Uma simples faixa trabalhada inteiramente em programação eletrônica e sintetizadores, longe do hermetismo das demais composições.

Você pode pagar o quanto quiser na estreia do Vocabulary em sua página do BandaCamp, ou mesmo baixá-lo de graça. Porém, sejamos francos, o álbum merece um bom preço, afinal, vale cada centavo.

Faded Days (2011)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Deerhunter, Dirty Beaches e Avey Tare
Ouça: Nowhere (Beth)

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.