Disco: “Froot”, Marina and The Diamonds

/ Por: Cleber Facchi 19/11/2015

Marina and The Diamonds
Pop/Female Vocalists/Indie Pop
http://www.marinaandthediamonds.com/

 

Eu encontrei o que estava procurando em mim mesma …Nunca pensei que poderia ser feliz”. Os versos centrais de Happy, faixa de abertura do colorido Froot (2015, Neon Gold / Atlantic) dizem muito sobre o conceito explorado no terceiro registro de inéditas de Marina and The Diamonds. Livre dos exageros testados no antecessor Electra Heart, de 2012, a cantora e compositora britânica traz de volta a mesma proposta detalhada em The Family Jewels (2010), transformando o presente registro em um melancólico passeio pelos próprios medos, sentimentos e confissões.

Em um explícito distanciamento da bases de sons crescentes, típicos da EDM, testados há três anos, Marina Diamandis e o produtor David Kosten encontram no minimalismo o estímulo para a construção do trabalho. Produtor responsável pelos três álbuns de estúdio do Bat For Lashes, Kosten transporta para as canções de Froot a mesma fórmula delicada de obras como Two Suns (2009) e The Haunted Man (2012). Um cenário musicalmente projetado para valorizar a voz da cantora.

Não por acaso a emoção flui com naturalidade no interior do trabalho. Com exceção do single Blue e da própria faixa-título, Froot está longe de parecer o mesmo arrasa-quarteirões da música pop que é Electra Heart. Trata-se de uma obra movida pela sutileza dos arranjos e versos costurados por Diamandis. Mesmo dentro das faixas mais comerciais do disco, caso de I’m a Ruin e Can’t Pin Me Down, um explícito controle toma conta do trabalho da cantora, como se os erros do álbum passado fossem contornados a cada nova curva do disco.  

Embora “contido”, Froot em nenhum momento se distancia da essência pop da cantora e de outras obras do gênero. Mesmo que faltem composições fortes como I Am Not a Robot, Hollywood, Oh No! e todo o rico acervo do primeiro registro de Diamandis, sobram faixas tecidas pela honestidade dos versos e sentimentos da cantora. Basta um rápido passeio pelo eixo final da obra e faixas como Solitaire (“Algo que você considera raro / Eu não quero ser comparada”) e Savages (“Somos apenas animais aprendendo a engatinhar”) para perceber isso.

Sem exageros, Froot cresce como uma obra que fisga o ouvinte sem dificuldades. É difícil escapar do jogo de sintetizadores dançantes de Blue, o pop nostálgico que abastece Gold – uma espécie de diálogo da cantora com a década de 1960 – ou mesmo da letra pegajosa de Can’t Pin Me Down. Durante toda a execução da obra Diamandis e Kosten criam uma série de artifício para manter a atenção do ouvinte em alta, preso ao delicado conjunto de faixas que sustentam o trabalho.

Sem necessariamente romper com a própria essência musical, em Froot, Marina and The Diamonds consegue se reinventar, abrindo passagem para uma série de novas possibilidades e temas maduros. Com Immortal como faixa de encerramento do disco, Diamandis confessa: “Eu quero ser imortal / Como um deus no céu”. A julgar pela crescente soma de ouvintes fieis que a cantora britânica conquista a cada novo registro de estúdio, não há como negar que esse desejo “divino” lentamente se concretiza.

 

Froot (2015, Neon Gold / Atlantic)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Florence + The Machine, Bat For Lashes e
Ouça: Blue, Can’t Pin Me Down e Happy

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.