Battles
Math Rock/Experimental/Post-Rock
http://www.myspace.com/battlestheband
Por: Cleber Facchi
Passados quatro anos desde a fabulosa estreia com Mirrored (2007), o trio nova-iorquino Battles (Tyondai Braxton deixou a banda para seguir em carreira solo) faz seu tão aguardado retorno, lançando o experimental Glass Drop (2011). Menos temático do que o trabalho de estreia, o atual disco se perde na criação de sonorizações não tão herméticas e que possibilitam ao grupo trilhar novos caminhos. Repleto de participações especiais, o álbum mantém ainda a mesma formatação do rock matemático utilizado na estreia, entretanto permite que a banda vá ao encontro de sons, formas e texturas menos sintéticas e muito mais orgânicas.
Atentamente observado, Mirrored passava uma sensação de corrida futurística, tendo no então quarteto, os responsáveis pela trilha sonora dessa maratona tecnológica, abrindo e fechando com a faixa Race (In e Out), praticamente a largada e o desfecho desse percurso. A maneira reta e inalterável das melodias (fazendo parecer que estas foram não compostas, mas sim construídas por máquinas ou programadas por alguma espécie de robô musical) dava ao álbum toda uma proposta plástica, artificial, porém não fria. Os vocais (quando utilizados) eram aplicados de maneira instrumental, fazendo coro à gama de elementos que movimentavam o trabalho.
Com Glass Drop (que de cara já ganha o título de melhor capa do ano) a sensação é completamente diferente, como se os robôs de outrora ganhassem finalmente vida, sendo agora responsáveis pela criação de um som muito mais humano e consequentemente plausível de erros. A primeira mudança está na maneira como o som chega até nós. Antes era a limpidez das melodias que davam suporte ao grupo, agora há uma mudança latente, permitindo que o trio – Ian Williams, John Stanier e Dave Konopka – desenvolva um som mais ruidoso, fazendo parecer que esta é a primeira vez em que eles de fato assumem seus instrumentos. A dobradinha de abertura Africastle e Ice Cream mostram isso, armazenando uma pequena quantidade de “sujeira” ao fundo das bases.
Não há como negar que ao lado dos britânicos do Foals, o Battles é um dos responsáveis por esse retorno do math rock ao meio musical. O estilo surgido no final da década de 1980 e que teve seu auge nos anos 90 passou por um longo período de repetições, ou de trabalhos nem tão entusiasmados quanto foram em outras épocas. Porém, enquanto o quinteto de Oxford explora um tipo de som que se mescla ao post-punk e a música pop, o trio norte-americano faz valer de fato seu nome dentro do gênero, criando melodias métricas e sonoridades calcadas em fórmulas e valores específicos. O primeiro exemplo disso é Futura, canção que por sinal deixa transparecer a faceta robótica do grupo (últimos lampejos de vida cibernética, talvez?) ou ainda Rolls Bayce, repleta de inclusões tecnológicas e sons maquinários em sua estrutura.
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Se a saída de Tyondai Braxton seria um empecilho para a banda, a quantidade de convidados que integram o novo disco fazem com que a ausência do antigo músico passe despercebida. Para começar, o trio convida o produtor chileno naturalizado francês e que reside na Argentina (ufa!) Matias Aguayo, para que este dê voz a faixa Ice Cream, primeiro single do atual trabalho. Enquanto na estreia a proposta era a ausência de letras bem definidas, dando ao álbum um caráter muito mais abstrato, o explorar dos vocais e da poesia (de maneira não matemática) amplia a fluência “humana” do registro, assim como mostra que a banda pode brincar com as palavras naturalmente, tendo uma consequência mais do que agradável.
Quem também chega para emprestar seus vocais é um dos mestres da New Wave, o inglês Gary Numan. O cantor – dono de uma carreira marcada pelo rock, a eletrônica e o synthpop – faz com que My Machines resulte em uma composição fácil e um dos momentos mais pesados de todo o disco. O japonês Yamantaka Eye, responsável por uma sequência de bizarrices do noise rock é quem dá sustentação a quase viajada Sundome, música que abre de vez as portas da experimentação dentro do álbum. O encontro multicultural tem seu desfecho com a presença de Kazu Makino, integrante do Blonde Redhead e que dá um toque feminino à faixa Sweetie & Shag, com uma sonoridade que transita pelo pop e a eletrônica, além de ser um dos hits fáceis dentro desse recente trabalho.
Apenas o trio, por si só, já seria mais do que suficiente para segurar as pontas em Glass Drop. O mesmo cuidado com que a banda elaborava sua estreia há quatro anos ainda se faz presente, embora que agora de forma um pouco mais rebuscada. Mesmo na singeleza de faixas como Toddler, com pouco mais de um minuto há uma sapiência e perspicácia dos integrantes em fazer tudo de forma cuidadosa, trabalhando cada pequeno acorde como se ele fizesse toda a diferença. Se nas pequenas criações o cuidado é grande, quando dão vida a faixas aos moldes de White Electric, o cuidado é ainda maior. Todos os instrumentos são organizados de forma a cumprir um único objetivo: deixar o ouvinte boquiaberto com tamanha precisão, e é justamente isso que a banda faz o tempo todo.
Em Glass Drop, o trio mostra que é capaz de garantir o mesmo sucesso obtido anteriormente, transitando por uma via diferenciada, é claro, sem deixar de lado as mesmas referências que deram a eles os louros durante a estreia. Seja por explorar os vocais de forma mais límpida, recheando o álbum com participações coerentes, ou dando forma a uma sonoridade mais aberta e fácil (sem mencionar alguns toques de regionalismo africano que acabam pontuando as guitarras do grupo) o Battles reforça o quanto é uma das bandas mais criativas da atual geração.
Glass Drop (2011)
Nota: 8.2
Para quem gosta de: Holy Fuck, Tyondai Braxton e Foals
Ouça: Ice Cream
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.