Disco: “Hallucinogen EP”, Kelela

/ Por: Cleber Facchi 25/11/2015

Kelela
R&B/Electronic/Alternative
https://soundcloud.com/kelelam

 

Poucos artistas atuais parecem entender tão bem o espírito da década de 1990 quanto Kelela. Mesmo antes de ser oficialmente apresentada com Cut 4 Me, trabalho lançado em 2013, todas as canções assinadas pela cantora – individualmente ou acompanhada por diferentes produtores – parecem dialogar com o som incorporada por veteranos da música negra que surgiram há duas (ou mais) décadas. Um curioso exercício de visita ao passado que volta a se repetir no melancólico Hallucinogen EP (2015, Warp / Cherry Coffee Music).

Produto final de uma sequência de composições planejadas desde o último ano – vide The High, lançada em fevereiro de 2014 -, Hallucinogen EP cresce como uma extensão aprimorada do trabalho entregue pela cantora há dois anos. São seis faixas, pouco mais de 20 minutos, tempo suficiente para que Kelela reforce o diálogo com velhos colaboradores – caso do produtor Kingdom -, ao mesmo tempo em que novos parceiros são encaixados no interior do trabalho.

Parte desse segundo grupo, o venezuelano Alejandro Ghersi assume a responsabilidade por duas canções do EP: A Message e a própria faixa-título. Mais conhecido pelo trabalho como Arca, Ghersi curiosamente transporta para dentro do disco a mesma sonoridade incorporada em carreira solo. Enquanto a faixa de abertura resgata parte do som explorado em parceria com FKA Twigs, esbarrando em elementos típicos do Trip-Hop, com Hallucinogen, cançnao que concede título ao registro, um labirinto de ruídos, batidas e bases instáveis parece orientar o caminho percorrido pela voz de Kelela.

No restante da obra, um cenário marcado pela tristeza e composições musicalmente divididas entre produtores como Kingdom, Nugget e a dupla Blessed & Gifted. Faixas como a sensual Gomenasai, dominada por sintetizadores enevoados, típicos do R&B/Soul do começo dos anos 1990. A própria All The Way We Down, produzida por DJ Dahi, parece buscar inspiração no mesmo universo, detalhando uma base leve, estímulo para o completo domínio vocal da cantora. Nada que se compare ao resultado apresentado em Rewind.

Ao mesmo tempo em que Kingdom e Nugget mergulham de cabeça em diferentes referências extraídas do final dos anos 1980 – como a música eletrônica produzida na cena de Chicago -, Kelela transforma o próprio sofrimento em uma ferramenta de imediata comunicação com o ouvinte. “And I can’t rewind, baby / I search anywhere for you / But I can’t rewind”, canta a artista enquanto uma sequência de batidas rápidas atravessam o campo intimista do R&B, dialogando com as pistas de diferentes épocas.

Ponto de partida para o segundo registro de estúdio da cantora, Hallucinogen aos poucos detalha um novo catálogo de possibilidades e pequenos experimentos musicais. Oposto ao conceito reforçado no próprio título do trabalho – em português, “alucinógeno” -, cada faixa do presente EP confirma a plena sobriedade de Kelela, madura em cada ato instrumental ou registro de voz.

 

Hallucinogen EP (2015, Warp / Cherry Coffee Music)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: FKA Twigs, Jessy Lanza e Tinashe
Ouça: Rewind, A Message e The High

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.