Disco: “Heaven”, The Walkmen

/ Por: Cleber Facchi 21/05/2012

The Walkmen
Indie/Alternative/Rock
http://www.thewalkmen.com/

Por: Cleber Facchi

Hamilton Leithauser e os parceiros do The Walkmen sempre trilharam um caminho próprio e totalmente particular mesmo dentro da cena alternativa norte-americana. Embora flertassem com o pós-punk, nunca foram tão próximos do gênero quanto Interpol. Também íntimos de composições alcóolicas e romanticamente enquadradas, o grupo de Washington, DC manteve sempre um limite, algo não atendido pelo The National ou demais artistas partidários do mesmo estilo musical e poético. O caráter individual, entretanto, não impediu que o grupo se transformasse em um dos mais queridos do público, não apenas pelo poderio de músicas como The Rat, mas pela possibilidade de encontrar no trabalho da banda uma originalidade que não se via em outros artistas.

Quase irretocável, a vasta discografia do grupo é uma prova da variedade de referências próprias (e emprestadas) que se apoderam de cada mínima canção proposta pelo grupo, características que percorrem a música proclamada na década de 1960 e se estende até as rajadas de guitarras dos anos 2000. Musicalmente diversificada, a banda é dona de um rico senso de transformação, uma habilidade rara, visto que mesmo próximos de diversos estilo e vertentes musicais os integrantes conseguem remodelar cada canção dentro de uma fluidez própria, quase isolada, como se fossem capazes de dar uma sobrevida ao rock clássico, ao pós-punk ou quaisquer outros caminhos e sons que venham a percorrer.

Com o lançamento de Heaven (2012, Fat Possum), sétimo trabalho oficial da banda, essa percepção se faz novamente visível. Espécie de sequência exata do disco anterior, Lisbon de 2010, o novo álbum arrasta o quinteto para junto do mesmo rock praiano que se dissolve nos registros recentes de grupos como Real Estate, Girls ou demais artistas responsáveis por esse som. Contudo, enquanto boa parte dos interessados nessa sonoridade viajam por um oceano que se materializa em cima de referências fundadas pelos Beach Boys, The Zombies e tantos outros anunciadores surgidos há quatro ou cinco décadas, o The Walkmen parece ir além, descendo até a música country, abraçando o pop de forma particular e até brincando com o recente cenário da música folk.

Inicialmente tímido, o álbum se divide em dois grupos de composições bem definidas. A primeira vertente parece seguir a proposta assumida na faixa de abertura We Can’t Be Beat, com violões pacatos, apoio de vozes que se estendem por todos os espaços e uma delicadeza impossível de ser imaginada quando voltamos os ouvidos para a crueza dos primeiros discos lançados em princípios da década passada. Essa tonalidade branda está justamente relacionada aos momentos mais intimistas das obra, aparecendo em músicas como Southern Heart, Line By Line e Jerry Jr.’S Tune, faixas em que tanto Leithauser quanto os demais parceiros optam pela calmaria, seja ela lírica ou instrumental.

Embora típico de um pequeno grupo de composições, a funcionalidade amena acaba por caracterizar mesmo n segunda frente de canções. Faixas que até buscam incrementar guitarras ágeis e os tradicionais vocais berrados do vocalista, mas (in)voluntariamente acabam descendo para o mesmo nível das doces e tímidas canções que ocupam o restante do álbum. A mistura agridoce formada por elementos da velha e da nova fase da banda acabam por resultar em um composto interessante, ora cru e grandioso, ora confortável e melódico. Surgem assim as faixas mais vendáveis e acessíveis do disco, canções como a entusiasmada (e linda) Heaven, Song for Leigh, Heartbreaker e Nightingales. Um belo conjunto de faixas que aproximam acordes amplos e versos fáceis de forma doce e sempre emocionada.

Organizado de forma crescente – tanto os versos como a sonoridade parecem seguir essa lógica -, o disco soa comercial e integro na mesma medida, uma das habilidades da banda, que mais uma vez transparece maturidade e inteligência na hora de produzir um novo registro. Com Heaven, o quinteto norte-americano entra de vez para o seleto grupo de artistas donos de um catálogo adulto, quase ausente de erros ou irregularidades, um feito cada vez mais raro em um mundo onde artistas despontam para o sucesso e desaparecem em questão de segundos. O céu, pelo menos para o The Walkmen, ainda não é o limite, há algo muito além.

The Walkmen

Heaven (2012, Fat Possum)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: The National, Lower Dens e Real Estate
Ouça: Heaven, Song for Leigh e Heartbreaker

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*Fotos: GorillaVs.Bear

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.