Fleet Foxes
Folk/Indie/Baroque Pop
http://www.myspace.com/fleetfoxes
Por: Cleber Facchi
“Expectativa”, uma palavra que dentro do meio musical funciona como uma verdadeira faca de dois gumes, normalmente afiadíssima. Quando utilizada de maneira incorreta pode facilmente derrubar algum artista, fazer com que aquele tão esperado álbum acabe “descartado” e consequentemente “esquecido”. Ambas palavras de forte peso. Entretanto, quando a expectativa torna-se suprida pela excelência de grandes lançamentos, rapidamente ela pode ser convertida em “surpresa”, “orgulho” e em alguns casos até “comoção”, todas, palavras muito mais impactantes e duradouras. E (feliz mente) são essas as expressões que saltam ao ouvir o novo disco do Fleet Foxes, um álbum que prova que a expectativa ainda é algo que pode dar certo.
Guarde essas palavras: “Helplessness Blues”, afinal, durante os próximos meses de 2011 (e muito provavelmente pelos próximos anos) essas duas palavras vão figurar entre os principais veículos de comunicação musical, entre as rodinhas de amigos ou mesmo nos debates acalentados de mesa de bar. O recente disco do sexteto te Seattle é apenas mais uma comprovação, que para além das guitarras violentas que cravaram o grunge sob as abas do Space Needle há também espaço para que adornamentos cuidadosos e uma melodia que beira à perfeição.
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Após ganharem o mundo com o lançamento de seu autointitulado disco de 2008 – além do EP Sun Giant, que funcionava como um complemento ao álbum de estúdio – qualquer tipo de pressão e expectativa sobre a continuidade desse registro seria óbvia e tenebrosa. Seriam Robin Pecknold, Skyler Skjelset, J. Tillman, Casey Wescott, Christian Wargo e Morgan Henderson capazes de dar continuação a um disco que brilhava tanto pelo uso caprichado de faixas com uma instrumentação plural (Your Protector) como pela quase ausência dela (Oliver James)? A resposta para todas essas perguntas sai facilmente após uma audição desse “Blues do Desamparo”.
O ouvinte mais desatento logo perceberá o disco como uma verdadeira continuidade do disco de estreia, um erro claro, já que o atual lançamento segue por um caminho levemente inclinado, não tão melancólico, mais direto e até mais experimental. A base dos norte-americanos ainda é a mesma, entretanto, o foco é outro. Se antes era uma estrutura de um pop barroco, como se a banda tocasse dentro de uma igreja européia durante a idade média, hoje é como se o grupo surgisse de maneira mais bucólica, pastoril, abandonando a climatização sorumbática do debut em prol de sons mais abertos.
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Qualquer um que tenha uma mínima aula sobre as escolas literárias deve se recordar que o período barroco era marcado pela dicotomia de elementos – Deus e Diabo, luz e trevas, alegria e tristeza – sendo assim é possível compreender o trabalho de 2008 como o lado soturno, mais reflexivo e triste do grupo, enquanto Helplessness Blues se apresenta como o projeto mais iluminado, feliz e levemente expansivo. Assim como no disco de outrora o grupo segue fomentando canções com o mesmo cuidado e a mesma capacidade de nos fisgar. Logo nos primeiros acordes de Montezuma, com o grupo ainda preparando o terreno, os vocais emocionados de Robin Pecknold (que em breve deve se lançar em carreira solo) e a sonoridade crescente culminam em um único fator: a emoção.
Embora o grupo seja constantemente caracterizado por sua instrumentação é possível afirmar que metade disso, de toda a emoção gerada pelo Fleet Foxes vem das melodias de vocais. O grupo desde seus primeiros registros fomenta arranjos vocálicos com a mesma intensidade que o The Beach Boys fazia há mais de 40 anos, utilizando-se de uma voz principal como fio condutor, sendo ela acompanhada por um coro cuidadoso que invade os ouvidos com totalidade. Sejam os mínimos murmúrios (funcionando quase como instrumentos) ou belos e prolongados apoios de canto, os vocais funcionam como os dentes de todas as engrenagens que movimentam esse registro.
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A instrumentação é, portanto, o grande corpo dessas engrenagens e que assim como no trabalho de estreia proporcionam momentos de puro encantamento ao longo de todo o seu desenvolvimento. É difícil se esquivar de acontecimentos como em Sim Sala Bin, com a banda seguindo de maneira ponderada até a entrada de um solo surpreendente de violões, com a chegada de um som furioso e belo. É como se o grupo fizesse dos instrumentos uma extensão do seu próprio corpo, sabendo exatamente de que forma dedilhar, qual a nota mais coerente, que maneira é a mais a nos emocionar. Assim surgem achados como The Plains/Bitter Dancer, a canção que nomeia o disco, The Cascades (que surge como uma gigante de apenas dois minutos).
Além de mais uma vez nos surpreenderem, de superarem nossas expectativas, o grupo faz pequenos apontamentos do que poderemos encontrar em seus futuros lançamentos, como é o caso de The Shrine/An Argument. Além de dar vazão à sonoridade já conhecida do grupo temos ainda pequenas inclusões de melodias quebradas, abordando uma face mais experimentalista do grupo, assim com o uso de um trompete desconstruído, mudanças de ritmos assertivas e o uso massificado de texturas e pequenos complementos. Distinta, se o que virmos pela frente for uma sequência desse belo fragmento sem duvidas já podemos lançar todas as nossas expectativas para o Fleet Foxes, pois sem dúvidas elas serão supridas.
Helplessness Blues (2011)
Nota: 8.8
Para quem gosta de: Bon Iver, Grizzly Bear e Local Natives
Ouça: Helplessness Blues e Mykonos
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.