The Middle East
Australian/Folk/Indie
http://www.myspace.com/visitthemiddleeast
Por: Cleber Facchi
Se você for procurar definições sobre o The Middle East, na página oficial do grupo acabará encontrando a seguinte colocação: “Somos de Townsville, Austrália e tocamos música”. Simples, e direta ao ponto, a frase corresponde com exatidão o que é o coletivo australiano formado em 2005, e que de forma silenciosa deu origem a um dos discos mais belos de 2008, The Recordings of the Middle East. Dois anos depois, problemas que quase culminaram no fim da banda e inúmeras apresentações em festivais cristãos, a big band faz seu tão aguardado retorno e o resultado não poderia ser mais satisfatório.
Logo em uma primeira audição você percebe as profundas diferenças desse I Want That You Are Always Happy (2011) para o disco de estreia. Enquanto no primeiro álbum o grupo – hoje formado por Jordan Ireland, Rohin Jones, Bree Tranter, Joseph Ireland, Mark Myers, Jack Saltmiras e Mike Haydon – caminhava por um terreno acústico e fortemente inspirado pelo post-rock, soando como um encontro entre Sigur Rós e Fleet Foxes, hoje a banda vai atrás de um som menos alongado e mais direto, mas nem por isso menos belo. Se antes faixas como Tsietsi ultrapassavam facilmente a barreira dos dez minutos hoje o grupo mantém certo controle, dando às letras um destaque ainda maior.
Personagem mais recorrente ao longo do recente trabalho, Jesus Cristo visita as letras da banda com frequência, contudo, quem espera que dali partam composições enfadonhas e repletas de “louvor” terá uma bela surpresa. O melhor exemplo disso é Jesus Come To My Birthday Party, esbanjando um show de guitarras sujas, enquanto a ruiva Bree Tranter conta como foi a visita do messias em sua festa de aniversário. Queridos no circuito gospel australiano, a banda teve através de diversos festivais a possibilidade de aperfeiçoar seus sons e suas letras, resultado que fica mais do que visível ao longo desse álbum.
Aos que poderiam sentir falta das composições antes extensas do grupo terão em Very Many, My Grandmother Was Pearl Hall e principalmente em Deep Water um momento te êxtase. Nessa última, por exemplo, a banda destila uma sonoridade meio puxada para o country, colidindo suavemente pianos, violões, slide guitars e teclados, todos abordados de maneira caprichada, meio preguiçosa, mas sempre coerentes.
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Já as outras duas, embora um pouco mais concisas permitem que o grupo consiga dissolver todo seu arsenal de influências, que vão desde a música folk dos anos 60, bebericando do rock progressivo da década de 1970, um “quê” de Neutral Milk Hotel em determinados momentos, até chegar ao chamber pop dos anos presentes.
Mesmo que sejam os violões o principal “armamento” dos australianos, o utilizar pontual de guitarras ao longo do álbum vem como um verdadeiro presente aos ouvidos. Em Hunger Song, mesmo discretíssimas, elas estão lá, dando sustentação a um dos poucos momentos festivos do disco. Dan’s Silverleaf é outra, dessa vez com o grupo jogando acordes um pouco mais abertos e que de alguma forma remetem ao Mumford & Son. Contudo é em Jesus Came To My Birthday Party que elas brilham de fato. Em meio a toda a orquestração sempre formidável da banda, o instrumento vem exposto com precisão, dando uma temática jovial à canção assim como ao disco.
Em meio a tantos acertos torna-se até difícil apontar alguns erros de desenvolvimento do trabalho. Mesmo a simplicidade da instrumental Sydney To Newcastle parece coerentemente encaixada dentro do registro, sendo praticamente impossível observar o todo sem ela. Nos mais singelos registros como Months ou ainda na canção de abertura Black Death 1349, as melodias vem trabalhadas com cuidado, como se fossem artesanalmente construídas por cada uma das mãos dos integrantes do The Middle East. Quem quer que tenha se emocionado ao ouvir Helplessness Blues (2011), novo do Fleet Foxes irá encontrar dentro de I Want That You Are Always Happy um álbum ainda mais cuidadoso e envolvente.
Uma audição rápida pode até dar ao disco certo caráter simplista (uma falácia). Enquanto no primeiro álbum os australianos desenvolviam texturas colossais ao longo de oito canções marcadas por longas viagens acústicas, no recente trabalho há o explorar de um autocontrole e maior concisão nas melodias. Optando pelo “simples” e pontuando o disco com pequenos detalhamentos o grupo consegue de fato se encontrar, gestando um som mais fácil de ser compreendido e ainda tão belo quanto o que era encontrado no debutar da banda. Em meio a uma temporada de grandes lançamentos ( TV on The Radio, Panda Bear, Fleet Foxes, entre outros) e futuros lançamentos (Bon Iver) a volta do The Midle East é de longe um dos melhores trabalhos do ano.
I Want That You Are Always Happy (2011)
Nota: 8.7
Para quem gosta de: Fleet Foxes, Grizzly Bear e Bon Iver
Ouça: Land Of The Bloody Unknown
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.