Disco: “Islah”, Kevin Gates

/ Por: Cleber Facchi 23/02/2016

Kevin Gates
Hip-Hop/Rap/Alternative
https://www.facebook.com/kvngates/

 

Kevin Gates passou os últimos dez anos despejando uma seleção de obras de peso dentro da cena estadunidense. Um bem servido cardápio de mixtapes como The Luca Brasi Story e Stranger Than Fiction, de 2013, o acessível By Any Means, de 2014, além do imenso catálogo de álbuns acumulados desde a metade dos anos 2000, quando começou a se destacar no cenário de Louisiana. Em Islah (2016, Atlantic / Bread Winners’ Association), primeiro registro de Gates lançado por um grande selo, uma extensão segura do mesmo material produzido nos últimos anos.

Em um cenário urbano dominado por temas religiosos, versos existencialistas, sexo, drogas, confissões românticas e conflitos pessoais, Gates destila uma coleção de faixas que em poucas rimas estreitam a relação com o ouvinte. É fácil ser arrastado para o interior de composições essencialmente acessíveis como Hard For (“Life is too depressin’ to be stressin’ on the regular”) e Ask For More (“Bright lights all I see  / How could I ask for more?”).

Observado de forma atenta, antes mesmo de completar os primeiros 15 minutos de duração, a trinca de abertura que apresenta Islah reforça a capacidade de Gates em dialogar com o grande público. O romantismo explícito em Not The Only One, fragmentos do próprio cotidiano em Really Really, e até mesmo a relação entre amor e o tráfico de drogas em 2 Phones. Uma espécie um combustível precioso que serve de estímulo para a seleção de versos que acompanham o ouvinte até a derradeira I Love It.

Curioso notar que mesmo cercado de composições comerciais, caso de Kno One e toda a sequência de abertura do disco, Gates em nenhum momento se distancia do mesmo universo cinza dos últimos registros. São retalhos de Gangsta Rap costurados em faixas como La Familia (“Real nigga in the game, streets say the same thang“) e Told Me (“Everyday ready for death, nigga win or lose”), pontes conceituais para o mesmo universo apresentado pelo rapper em mixatpes como Stranger Than Fiction.

A própria composição das batidas mostra um registro que se alimenta de diversas referências exploradas por Gates dos últimos trabalhos. São bases densas que flertam de maneira assertiva com o R&B, passam pelo Trap e até pelo uso controlado de samples. No time de produtores que acompanham o rapper, parceiros de longa data como The Featherstones (Chris Brown, Wiz Khalifa), David D.A. Doman (Cassie, Too $hort) e Go Grizzly (Dej Loaf, Akon), este último, colaborador frequente de Gates.

Posicionado em uma criativa zona de conforto, Gates faz do primeiro álbum de estúdio uma obra que tanto dialoga com os velhos seguidores, como abraça uma nova parcela do público. Do título – inspirado em Islah, filha do rapper – aos versos e bases que solucionam a estrutura do disco, passos seguros dentro de um cenário que parece desvendado em essência por Gates.

 

Islah (2016, Atlantic / Bread Winners’ Association)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Young Thug, Future e Ty Dolla $ign
Ouça: 2 Phones, Told Me e Not The Only One

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.