Disco: “Jenny Death” & “Fashion Week”, Death Grips

/ Por: Cleber Facchi 22/04/2015

Death Grips
Hip-Hop/Rap/Experimental
http://thirdworlds.net/

Ordem e caos, experiências opositoras, porém, articuladas de maneira precisa dentro do conceito caótico que rege a obra do Death Grips. Instável desde os primeiros minutos de vida – vide a estreia com a mixtape Exmilitary (2011) -, o projeto comandado por Stefan Burnett, Zach Hill e Andy Morin transformou os últimos meses em um natural tormento para o (próprio) público. Do encerramento (possivelmente planejado) das atividades da “banda”, ao atraso no lançamento da segunda metade de The Powers That B (2015), a incerteza logo se transformou em uma ferramenta criativa nas mãos do trio.

Primeiro, o registro de “sobras” intitulado Fashion Week (2015, Independente). Entregue ao público como uma “trilha sonora”, distribuído gratuitamente em uma publicação no Reddit, o registro parecia nascer como a explicita comprovação do encerramento das atividades do grupo, efeito da ausência dos vocais de MC Ride. Ainda assim, a disposição exata do título de cada faixa – “JENNY DEATH WHEN” – realçava a dúvida em torno da continuidade (ou não) do projeto.

Em se tratando da estrutura da obra, uma nítida continuação da eletrônica aplicada em Government Plates (2013). Ainda que a métrica específica das canções tropece (voluntariamente) na obra de Zach Hill com Hella, em se tratando do tecido instrumental que cobra o registro, o direcionamento é outro. Há desde composições “suavizadas”, como na dobradinha Runway N, até faixas construídas em cima de guitarras cruas e batidas quebradas, uma espécie de sequência ao mesmo detalhamento sujo explorado em NO LOVE DEEP WEB (2012).

Tamanha flexibilidade na utilização de texturas e (novos) ritmos parece servir de ensaio para material detalhado em Jenny Death (2015, Harvest). Mais do que uma continuação dos temas lançados em Niggas on the Moon (2014), a segunda parte de The Powers That B assume um rumo completamente distinto não apenas em relação ao último álbum do trio, mas em relação ao próprio universo do Death Grips. Uma ativa manipulação de vozes, rimas e instrumentos que tanto se aproxima do Industrial Rock de bandas como Nine Inch Nails – caso de Beyond Alive -, como também expande conceitos entregues em The Money Store (2012).

Antes destaque dentro de Niggas on the Moon, Björk agora é praticamente absorvida dentro da produção atenta de Hill e Morin. Salve a inserção de vocais remodelados no refrão de diferentes faixas, todo o restante do disco corre dentro do ambiente particular (e sombrio) do Death Grips, grupo que se mostra tão dinâmico quanto produção de I’ve Seen Footage e Hacker. Diferente dos últimos discos do trio, principalmente do álbum instrumental apresentado em janeiro, Jenny Death é uma obra esquiva de músicas confortáveis, respiros e brechas instrumentais.

Quanto ao futuro incerto que pode pontuar a carreira do grupo pelos próximos meses, isso é apenas um complemento para o completo senso de imprevisibilidade que cerca o projeto. Em caminhos distintos, ainda que próximos, Jenny Death e Fashion Week reforçam a versatilidade do Death Grips, um grupo tão provocativo (e insano) hoje, quanto em começo de carreira.

 

Jenny Death (2015, Harvest) / Fashion Week (2015, Independente)

Nota: 8.0 / 7.2
Para quem gosta de: Run The Jewels, Hella e clipping.
Ouça: Beyond Alive e Inanimate Sensation / Runaway N [2] e Runaway J

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.