Disco: “Levon Vincent”, Levon Vincent

/ Por: Cleber Facchi 31/03/2015

Levon Vincent
Electronic/Techno/Deep House
http://uzurirecordings.com/

 

Claustrofóbico e, ao mesmo tempo, libertador. Assim é o trabalho desenvolvido no homônimo álbum de estreia de Levon Vincent. Em um diálogo preciso com a eletrônica de Berlin, onde estabeleceu residência nos últimos anos, o artista original da cidade de Nova York encontra nos experimentos da Deep House e Minimal Techno um jogo de pequenas ambientações tão acolhedoras, quanto capazes de provocar a mente do ouvinte. Uma manobra sutil, entalhada em cima de loops reciclados, porém, montados de forma a hipnotizar o ouvinte, lentamente seduzido pelas colagens do produtor.

Feito para ser ouvido sem pressa, o registro que conta com quase duas horas de duração, parece ocultar segredos de qualquer ouvinte afobado. Salve exceções, caso de For Mona, My Beloved Cat. Rest in Peace e Her Light Goes Through Everything, grande parte das canções espalhadas pelo álbum ultrapassam os seis minutos de duração, arrastando o espectador para um cenário de maquinações robóticas, bases minimalistas e beats tão flexíveis, que parece impossível fixar o trabalho de Vincent dentro de um único gênero ou cena específica.

De maneira geral, o autointitulado registro pode ser dividido em dois grupos de canções. Mesmo livre de uma separação temática calculada específica, faixas como Junkies on Hermann Street, H Woman is an Angel e Her Light Goes Through Everything utilizam da continua manipulação de ruídos como um alicerce para o campo experimental da obra. Sintetizadores sobrepostos, bases ecoadas e articulações que tropeçam de forma involuntária no mesmo Techno Dub de Andy Stott – principalmente no álbum Faith in Strangers (2014) -, além das bases densas de Darren J. Cunningham nos dois últimos discos como Actress – R.I.P. (2012) e Ghettoville (2014).

Entretanto, a beleza no trabalho de Levon se esconde nos instantes de maior “limpidez” da obra. Logo na inicial The Beginning, um resumo funcional de toda a projeção minimalista que rege parte do disco. Batidas limpas, sutis; sintetizadores aplicados de forma isolada, sem interferir no alicerce matemático das batidas; sobreposição lenta dos arranjos, como se cada elemento encaixado encontrasse um espaço para “respirar”. A mesma aplicação desse resultado se faz visível em peças como Phantom Power e Black Arm w/Wolf, músicas que crescem sem pressa, como se Vincent cercasse lentamente o ouvinte, imediatamente preso, impossibilitado de possíveis fugas.

Sempre versátil, Vincent consegue ainda amarrar os “dois grupos de canções” em pontos específicos do álbum. É o caso da extensa Small Whole-Numbered Ratios. Com mais de nove minutos de duração, a faixa, uma das últimas do trabalho, se divide com naturalidade entre as batidas limpas – agora expostas em um reforço exaustivo – e sintetizadores poluídos, resultando em um dos instantes de maior provocação da obra. Uma passagem involuntária por diferentes campos da música minimalista, tão íntima de veteranos como Philip Glass, quanto “conterrâneos” da cena germânica, principalmente nomes relacionados ao selo Kompakt.

Por falar no selo comandado por Wolfgang Voigt, curioso encontrar no trabalho de Levon Vincent uma forte semelhança com a obra de um dos principais nomes do grupo, o sueco Axel Willner (The Field). De fato, grande parte da inspiração do nova-iorquino – que teve o presente registro lançado pelo selo Novel Sound – parece vir dos primeiros trabalhos de Willner, principalmente o clássico From Here We Go Sublime (2007). A diferença está no completo afastamento de Vincent em relação ao uso de vozes e fórmulas matemáticas, transformando cada faixa do álbum em um ato de continuo de experimento e ruptura “instrumental”, mesmo dentro dos (pequenos) limites impostos ao longo da obra.

Levon Vicent (2015, Novel Sound)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: The Field, Actress e Gui Boratto
Ouça: Small Whole-Numbered Ratios, Phantom Power e Black Arm w/Wolf

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.