Metronomy
Indie/Alternative/Electronic
http://www.metronomy.co.uk/
Por: Cleber Facchi
A busca por um conceito diferente a cada novo trabalho em estúdio parece guiar com sabedoria a proposta do Metronomy. Fugindo da solução redundante que parecia anunciada no primeiro álbum da banda, Pip Paine (Pay the £5000 You Owe), de 2006, a preferência por arranjos minimalistas e vocalizações melódicas parece ter dado um salto desde a chegada de The English Riviera (2011), álbum que encontra no recém-lançado Love Letters (2014, Because Music) não apenas uma continuação, mas um recheio para o conjunto de experiências controladas que abasteceram as anteriores criações do grupo.
Menos econômico, mas ainda assim sutil em relação ao disco de 2011, o novo trabalho foge das reverberações praianas da década de 1960 para abraçar de vez o espírito dos anos 1970. Da Soul Music imposta por David Bowie no clássico Young Americans (1975), aos versos românticos despejados por Stevie Wonder em sua melhor fase, cada minuto do novo álbum mantém letras, instrumentos e vozes apontados para o passado. Um direcionamento que beira a nostalgia, mas funciona com novidade nas mãos dos britânicos.
Alimentado pelos coros de vozes – bem representados em faixas como I’m Aquarius e Month Of Sundays -, Love Letters é um trabalho que funciona dentro de uma medida de tempo própria. Como se fosse apresentado em “doses”, o álbum quebra o imediatismo dos dois primeiros registros para crescer com conforto. Todas as canções são encaradas como breves suspiros líricos e instrumentais, um exercício que mesmo na aceleração crescente de Boy Racers ou nas guitarras pontuais da faixa-título, reverberam em um constante estado de graça. A parcimônia, assim como em The English Riviera, chega como um tempero extra para a banda.
Parte desse esforço delicado vem anunciado logo no título da obra – Cartas de Amor, em português. Romântico em essência, o trabalho se acomoda em um oceano de versos confessionais, músicas de separação ou doces declarações de amor. Como The Upsetter, faixa de abertura do disco, logo revela, todas as emanações do álbum são tratadas de forma sempre particular, como uma constante interpretação dos desejos de Joseph Mount, líder da banda, mas que aos poucos se revelam como nossos também.
Em se tratando dos arranjos do álbum, Love Letters dá um salto em relação ao antecessor. As bases, antes ponderadas e tímidas, agora ecoam encorpadas, sustentando um novo conjunto de possibilidades rítmicas. Enquanto a faixa-título – inaugurada por arranjos jazzísticos que emulam Miles Davis em My Funny Valentine (1965) -, aos poucos cresce e brinca com o pop, no restante da obra a busca por um som “orgânico” reforça a direção da banda. São músicas como Month Of Sundays e Reservoir, que mais parecem faixas registradas há quatro décadas e só agora encontram a luz do sol.
Desenvolvido para ser apreciado com calma em um efeito proposital, Love Letters lança cada música em um exercício de complemento para a canção seguinte. Da maneira como os sintetizadores ecoam climáticos, ao manuseio pontual das vozes, cada “organismo” do álbum funciona como uma fração do todo. Uma constante sensação de crescimento, princípio que se conecta de forma natural ao efeito lançado em The English Riviera, mas que ainda parece longe de ser finalizado. Por enquanto, apenas um objeto de recolhimento, amor confesso e doces melodias que parecem longe de esbarrar em qualquer traço de quietude arrastada. Ainda bem.
Love Letters (2014, Because Music)
Nota: 7.5
Para quem gosta de: Blood Orange, Bombay Bicycle Club e Mac DeMarco
Ouça: Love Letters, The Upsetter e I’m Aquarius
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.