Disco: “Luminous”, The Horrors

/ Por: Cleber Facchi 08/05/2014

The Horrors
Alternative/Psychedelic/Indie
http://www.thehorrors.co.uk/

Por: Cleber Facchi

The Horrors

Meia década vivendo nas sombras, e os membros do The Horrors transformaram Strange House (2007) e Primary Colours (2009) em dois dos exemplares mais interessantes da nova fase do Pós-Punk inglês. Na contramão de grande parte dos artistas próximos, Faris Badwan e os parceiros de banda deixaram de mergulhar na redundância para seguir uma fórmula própria – ora revelando personagens (Sheena Is a Parasite), ora contando histórias (Sea Within a Sea). Contudo, ao apresentar Skying (2011), os rumos do grupo se alteraram, obrigando a banda a deixar a década de 1980, para transformar o disco em uma ponte conceitual para um novo universo: o começo dos anos 1990.

A neo-psicodelia, o fascínio pela cena da Haçienda e a comunicação com veteranos como Primal Scream e Happy Mondays estão por todas as partes do trabalho, que ainda mantém um laço forte com a essência do grupo. Mas e o que dizer de Luminous (2014, XL), quarto e mais recente projeto dos britânicos? Na trilha do registro anterior, o novo álbum pode até sustentar uma série de conceitos transformados ou bem adaptados em relação ao disco passado, todavia, a incapacidade da banda em seguir adiante reforça o óbvio: a ponte construída pelo The Horrors está prestes a desmoronar.

Calma, não joguem suas pedras. Ainda. Longe de parecer um tropeço em totalidade, o quarto álbum da banda inglesa mantém firme os conceitos e pequenos acertos do grupo. A inaugural e naturalmente climática Chasing Shadows, por exemplo, reforça todo o domínio do grupo em desenvolver faixas extensas sem perder o equilíbrio. São quase sete minutos de referências que colidem de forma harmônica no decorrer da música, brincando com as sensações do espectador em um exercício não observado desde Mirror’s Image, do álbum de 2009. A mesma assertividade se repete ainda nas melodias de So Now You Know ou nos experimentos de I See You, músicas que alimentam e hipnotizam a mente do espectador na mesma proporção. O grande problema de Luminous é que tudo isso já foi visto anteriormente, em Skying.

Enquanto Strange House serviu para reforçar (e apresentar) a ferocidade do grupo, cruzando Pós-Punk e Garage Rock em uma medida tão caricata quanto autoral, Primary Colours deu um passo além. Era como se todos os erros assumidos pela avalanche de artistas do Revival Pós-Punk fossem resolvidos pela banda, que soube como nutrir versos fortes, sintetizadores detalhistas e uma carga extra de distorções. Uma verdadeira transformação em relação aos ensaios do primeiro disco. Entre Skying e Luminous a distância evolutiva é mínima, tornando o novo disco uma espécie de versão “pop” do álbum passado. 

Outro problema em relação ao desenvolvimento do álbum está na relação da banda com a música psicodélica. Por mais assertivo que seja o ambiente preparado para músicas como Falling Star e First Day Of Spring, muito do que sustenta o disco ecoa de forma atrasada. Algo como: “já vi isso antes, e de um jeito melhor“. Diversos conceitos estabelecidos para o disco já foram testados inicialmente por outros artistas – seja o Tame Impala em Lonerism (2012), ou os próprios conterrâneos do Arctic Monkeys em AM (2014), que ainda conseguiram inovar parcialmente ao flertar com o R&B. Basta voltar os ouvidos para I Can See Through You ou Moving Further Away do disco passado para perceber como o grupo apenas brinca com a mesma fórmula.

Claro que em relação ao cenário cada vez maior de artistas interessados em reviver a década de 1990, o quarto álbum do The Horrors ainda é um registro de expressivo destaque. Além da série de faixas acima citadas, a melancolia de Change Your Mind ou mesmo o catálogo de experimentos testados em Sleepwalk garantem movimento e bom fechamento ao disco, evitando que ele desabe por completo antes do ato final. Dessa forma, Luminous é um álbum que cresce dinâmico, concentrando todos os atributos para ser tratado como um bom disco. “Pena” que a banda lançou Skying antes.

 

Luminous

Luminous (2014, XL)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: S.C.U.M., Temples e Jagwar Ma
Ouça: So Now You Know, I See You e Chasing Shadows

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.