Stephen Malkmus & The Jicks
Indie Rock/Singer-Songwriter/Alternative Rock
http://stephenmalkmus.com/
Por: Cleber Facchi
Por mais que um sem número de bandas, artistas e produtores venham tentando ao longo dos últimos cinco anos trazer de volta todas as experiências musicais alcançadas na década de 1990, poucos serão capazes de alcançar o mesmo resultado que a pareceria gerada entre Stephen Malkmus e Beck Hansen conseguiu proporcionar no recente Mirror Traffic (2011, Matador/Domino). Genuíno e tomado pelas belas e irônicas sacadas poéticas de Malkmus, o disco é um verdadeiro mergulho na década de 90, um trabalho que traz de volta toda a superioridade do músico ao lado do Pavement, porém longe de soar como um plágio de si próprio.
Embora surja como um trabalho gerado da parceria entre Malkmus e os já velhos conhecidos membros do The Jicks – banda com quem o californiano vem trabalhando desde o começo dos anos 2000 -, o álbum traz muito da presença de Hansen, não apenas como produtor ou uma espécie de farol estabelecido no meio do registro, mas uma presença essencial, um indivíduo que se materializa através de cada uma das canções presentes no álbum. Se pela forma despojada e excepcionalmente suja como as guitarras são trabalhadas, ou mesmo na maneira como os versos das composições são entrelaçados, tudo transparece a presença de um artista tão criativo quanto fora ao lançar Odelay ou Mellow Gold.
Bem humorado e propagando um som harmônico e radiante, Malkmus se posiciona como um artista jovial e efervescente, emanando sensações que há anos pareciam esquecidas em seus trabalhos. Por mais que o registro anterior ao lado do The Jicks, Real Emotional Trash (2008) fosse um trabalho excepcional, em nenhum momento o álbum parece se aproximar da proposta renovada que se revela através deste disco, um projeto que é capaz de se situar entre o bom humor e as melodias de Crooked Rain, Crooked Rain e a maturidade sóbria de Terror Twilight.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=S-64FTeOZvk]
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=CIXmtCZULu8]
Muito do que delimita a boa condução do trabalho não está em sua instrumentação, mas sim nas letras produzidas por Malkmus. Por mais que alguns bons solos de guitarras sejam encontrados aqui e ali, além de algumas sequências instrumentais que se revelam satisfatórias acolá (não espere por nada aos moldes de Slanted And Enchanted) é através do já conhecido jogo de palavras alavancadas pelo músico que o registro vai lentamente sendo construído. Senator e Tigers, primeiras faixas a escaparem do recente álbum são apenas uma mera mostra perto do que é projetado através do álbum, onde cada uma das faixas ganham um toque de bom humor, crítica, excentricidade e até passeios pelos campos do nonsense.
Por mais que por todos os lados sejam encontrados pedaços daquilo que o californiano desenvolvia com sua antiga banda, considerar Mirror Traffic como uma possível continuação do que era propagado pelo Pavement é sem dúvidas uma afirmação errônea. Assim como já vinha desenvolvendo em seus anteriores álbuns, em carreira solo Malkmus dá preferência ao elaborar de um som menos vasto e mais centralizado, algo que Hansen parece de certo modo desestabilizar no decorrer do disco, gerando uma espécie de conflito profundamente agradável.
Como todo trabalho gerado em parceria entre dois artistas tão importantes quanto Beck e Malkmus não seria de se esperar que o temido monstro da expectativa se revelasse e fosse capaz de desmoralizar todo o resultado alcançado, entretanto é exatamente o oposto que acaba se revelando através do álbum. Por mais que fossem grandes as expectativas em torno de Mirror Traffic, todas elas acabam sumariamente limadas ou atendidas conforme o trabalho se movimenta, com cada uma das canções presentes no trabalho se revelando como uma espécie de tesouro há tempos perdido e somente agora resgatado. Se alguém votava em Watch The Throne como a grande parceria do ano, então voto em Mirror Traffic.
Mirror Traffic (2011, Matador/Domino)
Nota: 8.1
Para quem gosta de: Pavement, Beck e Silver Jews
Ouça: Senator, Tigers e Tune Grief
[soundcloud width=”100%” height=”81″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/tracks/19046025″]
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.