Disco: “Moms”, Menomena

/ Por: Cleber Facchi 08/10/2012

Menomena
Experimental/Indie/Alternative
http://menomena.com/

Por: Cleber Facchi

O pop e o experimental sempre foram constantes fundamentais para a carreira do grupo norte-americano Menomena. Tendo nessa dualidade de elementos a linha de condução para cada novo disco, o hoje duo – Brent Knopf deixou a banda em janeiro do ano passado para se dedicar exclusivamente ao Ramona Falls, sua outra banda – mostra que mesmo passada mais de uma década desde a formação do grupo, a mesma proposta dicotômica ainda se mantém, com a dupla remanescente – formada por Justin Harris e Danny Seim – se revezando na construção de mais um rico tratado de estúdio: Moms (2012, Barsuk). Quinto registro oficial da banda de Portland, Oregon, o novo álbum mostra que mesmo desfalcado o projeto segue tão inventivo (e por vezes revolucionário) quanto fora há alguns anos.

Menos experimental de todos os trabalhos já lançados pela banda até hoje, Moms vai de encontra ao que a dupla remanescente traz de melhor em suas composições: as melodias. Sintetizando de maneira comercial tudo aquilo que o Pink Floyd conseguiu em álbuns como Meddle (1971) e Dark Side of the Moon (1973), além de resumir (de maneira totalmente particular) os ensinamentos que o The Flaming Lips vem desenvolvendo desde o final da década de 1990, a banda transforma cada instante do presente álbum em um instante de realização sonora e poética. Em meio a esse variado cardápio de sons e novos encaminhamentos, há na sutileza e no delineamento comercial que definem o disco um ponto de inovação, uma matéria rara e todo um novo jogo de acertos para a carreira do duo estadunidense.

Contrário do que poderia parecer, a ausência de Knopf em nenhum momento limita ou atrasa a execução do disco, projeto que se mantém em um regime de inventividade até a última faixa. Se a abertura com Plumage revela um projeto totalmente acessível e “simples” do ponto de vista conceitual que banhava os registros anteriores, Heavy Is As Heavy Does com suas guitarras que parecem serras mudam totalmente a concepção do trabalho. Entre passeios pelo rock da década de 1970 – Led Zeppelin está por todos os cantos do disco – e desajustes que definiram o princípio do pós-rock na década de 1990, a dupla fundamenta o surgimento de um projeto que inicialmente pequeno, se abre infinitamente até a execução da faixa de encerramento.

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Sem os mesmos exageros lisérgicos que acompanham grupos como Tame Impala, em Moms o Menomena entende a música psicodelia de forma distinta, não bucólica e sempre próxima de um encaminhamento urbano. Preferência bem estabelecida na segunda metade do álbum – principalmente em músicas como Tantalus e na gigante One Horse -, a busca por um som de múltiplos tons e cores talvez seja o elemento que mais distancie o grupo dos projetos passados. O que antes eram ruídos que se multiplicavam de forma a soterrar os registros com os mesmos experimentos sujos que cresceram ao final da década de 1980, hoje se revela de maneira peculiar, com a dupla (principalmente pelo uso dos vocais) garantindo uma finalização colorida ao álbum.

Diferente de tantas bandas que encontram no rock clássico as bases para trabalhos enfadonhos ou deveras tradicionais, ao passear pelo conjunto de obras clássicas – que vão dos Beatles pós-Revolver ao Led Zeppelin da obra máxima IV – a dupla longe de apenas absorver tais “ensinamentos” transmite suas próprias experiências. Distantes das projeções por vezes matemáticas que assumiam os rumos no anterior Friend and Foe (2007) e estabelecendo uma espécie de continuidade ao trabalho que o precede, Mines (2010), Moms eleva o indie rock convencional a um novo panorama, seja ele lírico ou instrumental.

Pensado de maneira a soar épico em toda a extensão – proposta que acompanha a banda desde os primeiros discos -, o álbum surge como uma versão alternativa de tudo aquilo que gigantes como Grizzly Bear e Arcade Fire vêm desenvolvendo em suas específicas carreiras. Dotado de um rumo próprio e que se altera a cada curva do disco, Moms se anuncia como um projeto de recomeço para o Menomena. De volta aos primórdios de 2000, quando Justin Harris e Danny Seim eram os únicos membros regulares do grupo, somos novamente apresentados à banda, que mesmo mantendo algumas marcas do passado ainda tem muito que nos apresentar.

 

Moms (2012, Barsuk)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Grizzly Bear, Deerhoof e Wolf Parade
Ouça: Plumage e Heavy Is As Heavy Does

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.